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segunda-feira, maio 20, 2024
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Chuvas no RS: governo pode importar até 1 milhão de toneladas de arroz

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Sérgio Roxo, Karolini Bandeira, Alice Cravo, Eliane Oliveira, Ana Flávia Pilar e Juliana Causin

BRASÍLIA e RIO (AG) – Diante da perspectiva de impacto das enchentes do Rio Grande do Sul no preço dos alimentos e na inflação, o governo anunciou nesta terça-feira que editará uma medida provisória para viabilizar a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz para suprir as perdas provocadas pelas inundações. O estado responde por 70% da produção nacional e, embora haja estimativas divergentes, as perdas são calculadas em 10% a 17% da safra, considerando o que não foi colhido e o que está armazenado. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o objetivo é evitar que haja especulação sobre o preço do produto, com aumento para o consumidor. A compra deverá ser feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

– O Rio Grande do Sul detém 70% da produção de arroz do Brasil. Tivemos perdas de arroz que estava nos armazéns alagados. Além disso, a grande dificuldade é a logística, tirar o arroz do Rio Grande do Sul e levar para o centro de distribuição. Está sendo preparada MP (medida provisória) autorizando a Conab a fazer compras na ordem de 1 milhão de toneladas – disse Fávaro, após reunião sobre a tragédia, no Palácio do Planalto.

Economistas estimam que o impacto no IPCA, o índice oficial de inflação, pode ser de 0,1 a 0,2 ponto percentual no ano, em razão do efeito de alta nos alimentos provocado pelas enchentes no estado.

A previsão neste ano era de uma safra de 7,4 milhões de toneladas de arroz, mas o cálculo foi feito antes das chuvas. O mercado brasileiro de arroz é relativamente ajustado, e a produção nacional se aproxima do consumo doméstico, que, anualmente, é de cerca de 10 milhões de toneladas.

Para reabastecer estoques em períodos de chuva excessiva ou de secas, que afetam o plantio, o Brasil importa cerca de 1 milhão de toneladas por ano, a maior parte do Paraguai, que entra por terra pelo Mato Grosso do Sul. Por isso, a tendência é que a maior parte da importação seja do país vizinho.

O ministro frisou que o produto importado não será vendido a atacadistas para não prejudicar agricultores. O arroz será direcionado a mercados de bairros periféricos das grandes cidades:

– Não é para concorrer, não vai comprar arroz e vender para os atacadistas. É para evitar desabastecimento.

Inicialmente, serão importadas 200 mil toneladas de arroz descascado e empacotado.

– Se formos rápidos na importação, evitamos o aumento (de preços) – disse Fávaro.

O presidente da Conab, Edegar Pretto, afirmou que a empresa fará leilões de compra de arroz nos países do Mercosul.

Além da importação de arroz, o Ministério da Agricultura recomendou que sejam suspensos, por 90 dias, pagamentos de empréstimos de produtores agrícolas do estado. O pleito foi apresentado pela federação de agricultura do RS.

Antes do anúncio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia defendido, em entrevista a rádios, a importação do produto:

– Agora com a chuva, acho que nós atrasamos de vez a colheita (do arroz) do Rio Grande do Sul. Se for o caso, para equilibrar a produção, a gente vai ter que importar arroz, a gente vai ter que importar feijão, para que a gente coloque na mesa do povo brasileiro um preço compatível com aquilo que ele ganha.

Na mesma entrevista, sem citar diretamente Jair Bolsonaro, Lula lembrou dos temporais que atingiram a Bahia em 2022, quando 25 pessoas morreram. Bolsonaro não visitou a região. Lula disse que “o presidente da República estava passeando de jet ski em Fernando de Noronha e não se preocupou.”

A consultoria DataAgro estima perdas de 10% a 11% na produção de arroz do estado. Mas outras culturas devem ser afetadas. A empresa prevê perdas de 3% a 6% na soja e de 2% a 4% no milho.

Segundo Gedeão Silveira Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), além da suspensão de dívidas de produtores rurais, o setor pede que o governo crie linhas de crédito com o Tesouro como garantidor e juros mais baixos. Segundo ele, o efeito na soja preocupa. O estado é o segundo maior produtor do país.

– O Rio Grande do Sul inteiro tem soja hoje, e não é só uma questão para as áreas alagadas. Nossa preocupação é que, se seguir chovendo, a produção de soja começa a se deteriorar, ela perde qualidade – disse.

A Cogo Inteligência em Agronegócio estima que 30% da safra de soja ainda não foram colhidos. No caso do arroz, a previsão é que essa proporção seja de 22%.

Cálculos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) indicam que dez unidades produtoras de carne de aves e de suínos estão paradas ou com dificuldade de operar. O estado responde por 11% da produção de carne de frango e 19,8% da de suínos. Além da produção de animais em si, há dificuldades para adquirir ração para alimentá-los.

Em relatório, o Goldman Sachs afirma que o arroz é uma cultura importante para a cesta básica do brasileiro e que o mercado já começou a revisar para cima as previsões de inflação doméstica de alimentos. O banco destaca ainda que o estado é responsável por 7% das vendas no varejo e cerca de 6% das vendas do comércio eletrônico no país.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital, diz que o peso do arroz não é tão grande no índice de inflação, mas a soja afeta outros produtos:

– O peso do arroz não é tão alto no IPCA. Já o peso da soja aparece no bife, no peito de frango, no preço do ovo e do leite, justamente por causa da ração, além do próprio óleo de soja. O que a gente calcula é um impacto entre 0,1% e 0,2% adicionado ao IPCA.

Segundo Fábio Romão, da LCA Consultores, os primeiros sinais de impacto vão aparecer no preço do arroz, entre os meses de maio e julho. No segundo momento, devem chegar ao óleo de soja e a algumas proteínas.

A produção agrícola é a face mais visível de um impacto econômico que os analistas ainda tentam mensurar, face ao desastre no estado. O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul representa fatia de 6% a 7% do PIB nacional. Além do impacto no preço dos alimentos e na inflação, as restrições logísticas e de circulação devem ter efeito no varejo, na indústria e nos serviços.

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