A região amazônica, entre suas inúmeras riquezas, se destaca pela abundância hídrica presente em todo o território. Diversos corpos d’água servem para beneficiar as comunidades que vivem na e da floresta. No entanto, apesar da fartura de água, em diversas localidades, como na Ilha do Marajó, por exemplo, as comunidades sofrem com a falta de abastecimento e tratamento adequado, além de saneamento básico escasso ou mesmo inexistente.
Segundo o Censo de 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 24,03% da população total de Breves — uma das cidades mais importantes do Arquipélago do Marajó — tem acesso aos serviços de abastecimento de água. A falta de saneamento básico e de água potável impacta diretamente a saúde e a educação, especialmente das crianças, que são mais vulneráveis a doenças transmitidas pela água contaminada — problema recorrente em localidades onde não há tratamento adequado.
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Com a finalidade de reduzir esse problema, equipes do Instituto Mondó — organização sem fins lucrativos que atua na transformação de escolas em plataformas de soluções para os desafios da comunidade — criaram um projeto que busca melhorar o desempenho escolar dos estudantes do município com a instalação de sistemas de filtragem e purificação de água nas escolas públicas da comunidade. Ainda em fase piloto, o projeto implantou filtros e purificadores de água em cinco das dez escolas públicas contempladas, garantindo que estudantes e professores tenham acesso a água limpa e segura.
“As unidades de ensino foram selecionadas após um diagnóstico detalhado da qualidade da água, do acesso ao saneamento pela comunidade escolar e das faltas escolares. Com a instalação desses filtros, poderemos testemunhar um grande avanço na melhoria da qualidade de vida dos estudantes, reduzindo significativamente doenças transmitidas pela água e, consequentemente, as faltas escolares”, explica Huan Tupinambá, coordenador da dimensão de Saúde, Moradia, Água e Energia do Instituto Mondó.
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Acompanhamento
Para assegurar o sucesso do projeto, o Instituto afirma que está acompanhando a qualidade da água por meio de análises físico-químicas e microbiológicas. Essas verificações ocorrerão antes e depois da instalação dos filtros, além de serem realizadas periodicamente a cada seis meses.
As amostras coletadas passarão por avaliações que incluem parâmetros físico-químicos, como caracterização da água, detecção de metais pesados e nutrientes derivados de esgoto doméstico, entre outros. No campo microbiológico, serão investigados coliformes totais e Escherichia coli. No total, mais de 100 parâmetros serão analisados.
De acordo com a diretora executiva do Instituto, Carolina Maciel, essas informações serão imprescindíveis para as próximas etapas do projeto, que incluem a resolução de adequações necessárias para o pleno funcionamento dos filtros já instalados e a ampliação do número de escolas a receberem o sistema. “Além disso, esses dados vão ajudar a fortalecer as capacitações para professores, gestores e outros atores da comunidade escolar. Nossa intenção é garantir que a utilização e a manutenção dos filtros ocorram de maneira adequada e que todos possam ser responsáveis pelo sistema, uma vez que todos serão beneficiados”, explica.
Em outra etapa, haverá a entrega de recipientes apropriados para o armazenamento da água tratada aos familiares dos alunos, assegurando o consumo seguro também pela comunidade. Depois, será estabelecido um plano de monitoramento contínuo dos filtros instalados, permitindo acompanhar seu desempenho, prever manutenções preventivas e identificar eventuais necessidades de ajustes.
“O intuito maior dessa iniciativa é promover a preservação dos recursos naturais e a justiça hídrica para comunidades vulneráveis. O acesso à água potável é um direito fundamental e, por meio desse projeto, mostramos que soluções inovadoras e colaborativas podem transformar realidades”, frisa Huan.
Segundo os organizadores, em abril, o projeto avançou com o treinamento de famílias e a distribuição de recipientes adequados para o armazenamento da água tratada. A medida busca assegurar o consumo seguro também nas residências, reduzir o uso de garrafas plásticas descartáveis e, consequentemente, contribuir para a mitigação da poluição plástica.
Além disso, o Instituto esclareceu que está sendo estruturado um plano de manutenção preventiva dos filtros, com assistência técnica periódica para garantir a durabilidade e o bom funcionamento dos sistemas. Paralelamente, estão sendo realizadas capacitações com professores, gestores e membros da comunidade escolar, voltadas à correta utilização, manutenção e corresponsabilidade pela gestão do sistema.
“No maior arquipélago fluviomarinho do mundo, os habitantes têm pouquíssimo acesso a saneamento básico e à água potável e de qualidade. Por isso, ficamos felizes em entregar esses filtros para que as escolas tenham acesso a uma água de qualidade e se tornem referência em direitos — dos alunos, dos familiares e da comunidade escolar — e que esse acesso transborde também para as famílias dos alunos. Queremos difundir o entendimento sobre a importância do consumo e do manuseio adequado da água. Ainda temos muitos desafios pela frente, mas temos a certeza de que estamos no caminho certo”, concluiu Julia Jungmann, diretora de Relações Institucionais do Instituto Mondó.