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quinta-feira, novembro 21, 2024
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Biodiversidade garante riqueza gastronômica e negócios

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Nesta sexta matéria da 4ª edição do projeto “Você Empreendedor”, projeto que o DIÁRIO DO PARÁ desenvolve para mostrar que participar da 30ª Conferência das Partes (a COP30), como empreendedor, pode ser uma oportunidade única para contribuir com soluções sustentáveis e inovadoras para os desafios ambientais globais. Nesta edição, um olhar diferenciado sobre dois temas análogos levados a outro nível – a ponto de receber o reconhecimento de uma das instituições de maior credibilidade do mundo, o Prêmio Nobel.

Empreendimento cujo modelo de negócio foca em destacar a gastronomia como local de fala sobre a importância da conservação do meio ambiente por inteiro e o tempo todo em prol de um alimento que nutra o corpo humano e o bem viver planetário, a “Toró – Gastronomia Sustentável”, que tem à frente a empreendedora Susane Rabelo, presta serviços autorais relacionados a consultoria gastronômica, palestras, criação de receitas, minicursos, etc., com engajamento pedagógico para demonstrar o que é a comida biodiversa na mesa, e sinalizando para isso a importância da proteção do território geodiverso (rio, mar, mangue, campo etc).

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“Temos a geodiversidade amazônica como berçário do alimento, da biodiversidade. Para nós, cultura, meio ambiente e alimento são indissociáveis e indispensáveis ao desenvolvimento de uma gastronomia sustentável”, enfatiza Susane. A “Toró” foi fundada no ano de 2015, um ano antes de a Organização das Nações Unidas (ONU) criar a data que celebra o Dia Internacional da Gastronomia Sustentável (18 de junho), com o foco em reafirmar que todas as culturas e civilizações contribuem para o desenvolvimento sustentável e o alimento é um bem comum a todos.

O empreendimento desenvolve iniciativas de governança ambiental, social e corporativa (na sigla em inglês, ESG), e este ano foi reconhecido e nomeado internacionalmente ao Prêmio Nobel Verde (Green Nobel Prize) ou Prêmio da Sustentabilidade, intitulado por “United Earth Amazônia Award”, o novo legado da família Nobel, por conta de sua participação no projeto ESG “Terra Indígena Sororó (SE Pará, Brasil/Amazônia): estado de conservação do seu entorno (1985-2020) e biodiversidade associada a cultura alimentar da etnia Suruí-Aikewára”.


Idealizado pelo tecnólogo em gastronomia e biólogo Wagner Vieira, em conjunto com Susane, que é esposa dele, e geóloga doutoranda em Biodiversidade e Conservação (Rede Bionorte/MPEG), eles projetaram um modelo de negócio pioneiro na capital paraense: uma ferramenta de gestão que representa uma perspectiva integrada no segmento gastronômico alinhada aos pilares social, ambiental e econômico, fundamentais para a sustentabilidade. Esta organização surgiu de forma natural a partir das formações acadêmicas do casal, que identificaram no empreendedorismo gastronômico possibilidades de apresentar a sustentabilidade como ferramenta motivacional para investigar a biodiversidade comestível regional e a importância da conservação da diversidade biológica em uma natureza amazônica geodiversa.

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“Destacamos a importância no processo de empreendedorismo sustentável, o reconhecimento do alimento e sobretudo de quem produz o alimento sustentável, atravessando a valorização sociocultural, apresentando os guardiões dos territórios, os espaços de produção e autonomia na manutenção da cultura alimentar amazônica. A gente quer ecoar as vozes da terra no que tange às particularidades sobre a consciência alimentar, integridade do ecossistema, combate à mudança climática e justiça social”, justifica a empreendedora.

Susane confirma que empreender no campo da sustentabilidade é um processo que exige identificar o ponto de partida, a virada de chave, mas é imprescindível o caráter pedagógico no modelo de negócio, de informar, sensibilizar e, de demonstrar mudanças de hábito, assegurando a coexistência dos três pilares, impactando positivamente a economia, a sociedade e o meio ambiente, em harmonia com a governança em rede, na união entre as pessoas.

Para Susane, a COP30 em Belém já dá sinais de avanço no empreendedorismo gastronômico sustentável e sobretudo no comportamento do consumidor mesmo antes de sua realização. “Estamos a menos de um ano do evento e percebe-se que empreendedores mais focados em práticas sustentáveis ganham mais espaço e visibilidade”, avalia. “Recordo a participação do Toró, no ano de 2017, em um festival nacional que ocorreu aqui em Belém em alusão ao primeiro ano da data internacional da Gastronomia Sustentável. Empreendedores nos perguntavam se era possível desenvolver uma gastronomia sustentável e por onde começar. Éramos o único modelo de negócio que contribuía para a conscientização pública sobre a importância da sustentabilidade na gastronomia ali naquele momento”, relata.

Enquanto expositores, Susane e Wagner mostraram o uso do desidratador na preparação de alimentos (tecnologia social), na aula show foi realizada uma receita sobre o aproveitamento integral dos alimentos regionais (desperdício zero) e na comercialização de comida e bebida, o casal priorizou o consumo de alimentos de produção local (quilômetro zero), servindo-a em pratos, talheres e copos biodegradáveis e compostáveis, feitos de fécula de mandioca, amido de milho.

“Os clientes ficavam surpresos, e perguntavam se podiam levar o utensílio para casa, se podiam comê-los. Percebíamos também que as pessoas não reutilizavam o utensílio, por entender que é biodegradável, ou seja, tudo bem descartar. Então é possível que a COP 30 deixe um legado de alto impacto positivo no empreendedorismo gastronômico do estado do Pará, ampliando, por exemplo, a produção e o acesso a alimentos agroecológicos e produtos da sociobiodiversidade, e outros dispositivos que contribuam para o incentivo de hábitos alimentares sustentáveis a favor do combate às mudanças climáticas. O alimento tem tudo a ver com isto”, garante.



DICAS

Para se tornar um empreendedor sustentável, é fundamental abraçar características que vão além do lucro, priorizando a consciência ecológica, a responsabilidade social, a inovação, o uso de recursos renováveis, a economia circular, a transparência ética e a busca por um impacto positivo, em prol do bem viver individual e coletivo. Se envolver plenamente nesses requisitos inclusive garantiu ao Toró um reconhecimento mais do que celebrado pelos dois empreendedores.

Após uma auditoria minuciosa, o Toró ficou entre os 16 finalistas do Prêmio Nobel Verde dentre mais de 100 projetos de empreendedorismo da Amazônia Legal, conquistando, portanto, o reconhecimento e a certificação internacional em razão do desenvolvimento da iniciativa ESG, denominada por Terra Indígena Sororó. A iniciativa é resultado de um processo de cocriação com a comunidade indígena da TI Sororó (SE pará, Brasil/Amazônia) em virtude do enfrentamento do povo Suruí Aikewara ao fogo e desmatamento que ocorre no entorno da terra indígena nos últimos 35 anos e, sobretudo associado a resistência destes indígenas na manutenção de sua cultura alimentar tradicional diretamente relacionada à conservação da biodiversidade e que utiliza a técnica ancestral do Moquem, uma herança Tupinambá.

“Ter sido nominado para o United Earth Amazonia Award representa uma grande honra, uma vez que, assim como no Prêmio Nobel da Paz, as indicações de projetos não são abertas ao público, mas feitas por pessoas reconhecidamente comprometidas com a sustentabilidade da Amazônia e representativas dos vários setores sociais, desde órgãos públicos e academia, e líderes comunitários”, orgulha-se Susane.



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