“No dia de hoje quero convidar a todos para não lamentarmos, mas fazermos um ato de entrega e repito o que já disse hoje a várias pessoas: ele já chegou, essa é a nossa fé e a nossa convicção”, falou Dom Alberto Taveira, arcebispo de Belém, ontem em coletiva com a imprensa no Colégio Santo Antônio, ao se pronunciar sobre o falecimento do Papa Francisco, aos 88 anos.
O arcebispo de Belém relembrou que o Papa Francisco completou quase 13 anos de pontificado. “Marcou esses quase 13 anos de uma forma indelével para a história da Igreja e da humanidade, penso que Deus teve um carinho muito especial com ele, porque ele teve a possibilidade de estar com o povo reunido na praça de São Pedro no dia de ontem (Páscoa). São incontáveis os gestos do Papa Francisco a serem recordados na história da Igreja, incontáveis os seus escritos, as suas viagens, sorrisos. Ontem ainda cumprimentou crianças quando foi à praça de São Pedro. Faleceu em paz e posso dizer que me veio ao coração quando recebi a notícia nesta manhã: um papa santo!”.
Na ocasião, Dom Alberto lembrou o legado que Francisco deixa: de manter a Igreja unida e abri-la para campos de diálogos, relacionamentos com o mundo, com a sociedade, com a diversidade do tempo que nós vivemos e manter a experiência da Igreja que evangeliza.
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“A Igreja com o Papa Francisco se tornou mais missionária, a expressão que ele usava ainda em Buenos Aires e usou não sei quantas vezes como papa: a Igreja em saída! E a Igreja vai continuar em saída, indo ao encontro das situações mais difíceis e mais desafiadoras”, destacou.
A base dos ensinamentos cristãos, foram defendidos pelo papa Francisco no seu dia a dia como amor, tolerância e solidariedade. “Esse é um legado do papa Francisco, a universalidade do amor, a capacidade de diálogo, a disponibilidade para ir ao encontro do mundo inteiro, das situações mais difíceis e problemáticas sem medo”, pontuou Dom Alberto.
“Era um homem de extrema coragem, ousadia, prontidão, liberdade, nada o oprimia, nenhuma dificuldade, nem um problema e vamos dizer para falar desses últimos tempos, nenhuma dificuldade de saúde. Penso que qualquer pessoa nas condições dele teria elevado a um desânimo e ele manteve o vigor até o final”.
Papa Francisco olhou para a Amazônia e seus ribeirinhos, fez apelo à preservação do bioma e foi uma das vozes mais ativas contra o desmatamento ilegal na região.
“Quando o papa veio ao Brasil, me apresentei a ele como arcebispo de Belém, disse: ‘sou Dom Alberto, arcebispo de Belém, na Amazônia’. Ele olhou para mim, me pegou pelos braços e me disse assim: ‘Sejam ousados, se vocês não forem ousados já estarão errando de princípio’. E depois quero dizer uma coisa que para nós é um santo orgulho, quando houve um encontro dos bispos da Amazônia Legal, aqui em Belém, em Icoaraci, nós mandamos uma carta para o papa pedindo a realização do ensino para Amazônia, vou dizer essa ideia nasceu. Ele colocou a Amazônia diante das luzes do amor de Deus, fez com que a Amazônia fosse reconhecida pelo mundo inteiro”.
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Em 2017 Francisco convocou, pela primeira vez, um sínodo dedicado à Amazônia. O encontro aconteceu em Roma dois anos depois e reuniu representantes da Amazônia Legal, incluindo bispos, padres e religiosos da Amazônia brasileira.
“Recordo-me de um encontro acontecido no Vaticano, um encontro internacional das novas comunidades, e cabia a mim fazer a apresentação, porque era assistente dessas comunidades, ao papa e fiz um texto que tinha preparado. Assim que terminei de falar, iria ao encontro do papa. E ele não esperou, saiu de lá e veio a dar-me um abraço muito fraterno. Ele era dessas realidades, desse tipo de coisa, tomar iniciativa, servir, sorrir, ajudar uma pessoa. Pensamos que na semana passada, com as condições limitadas de saúde o papa foi ainda visitar um presídio, isso ele fez muito durante esse tempo. Pequenos gestos dele e tive muitas oportunidades de estar junto e experimentar essa extrema delicadeza e firmeza ao mesmo tempo”.
Todos os anos o arcebispo mandava ao papa pedido de benção para o Círio de Nazaré. Dom Alberto lembrou de quando deu uma imagem da padroeira dos paraenses ao papa, e de como o mesmo parecia uma criança recebendo um presente. “Ele olhou e disse: ‘É para mim?’. Disse ‘é claro, santidade’, ele agradeceu como quem ganha um presente. Essa delicadeza o papa teve ao nosso respeito”, contou Dom Alberto, que teve a possibilidade de ir até o papa com o intuito de convidá-lo para a pré-COP.
“Foi uma provocação positiva do Governo do Estado, que gostaria de convidá-lo para estar aqui em Belém, especialmente por conta da COP. Mas fomos muito realistas, pretendíamos um evento pré-COP com a presença do papa. Fizemos isso com delicadeza, sabendo que as condições de saúde não lhe permitiam fazer isso. Ele ficou muito agradecido e manifestou um carinho muito grande todas as vezes que me referia a ele sobre Amazônia e Belém, a respeito do Círio, dava para perceber que ele estabelecia um conhecimento além das formalidades”.
FIÉIS
Expedito Alves de Araújo – professor
“Representa uma perda muito grande, porque o papa Francisco é um enviado de Deus, homem dedicado à missão de pacificação do mundo, amante dos humildes, pregador incansável da paz, do arbítrio e nós, como católicos, temos um sentimento grandioso de perda. Mas ao mesmo tempo nós entendemos que é um chamada do pai e que ele de onde estiver continuará a sua peregrinação, pregação em favor da paz e dos humildes de forma que o mundo terá a sua transformação em função dessas ações que ele em vida pregou incansavelmente e continuará pregando” .
América Moretti – pensionista
“Recebi a notícia mais com alegria do que com tristeza, porque é uma grande glória se juntar a Deus e ele foi para lá. A vida dele foi preparada para ir pra lá, aqui era só uma passagem. E todos nós temos uma data de validade e ele ficou até as últimas horas servindo ao Senhor”.
Daniel Rodrigues – Analista financeira
“Fiquei bem impactada por estar em viagem, turismo, feriado, não estava acompanhando os últimos dias dele. E quer queira, quer não, é impactante, acabou a Páscoa, é simbólico para a gente. Passou a Quaresma e acordar com essa notícia. Viemos visitar uma igreja nesse dia também, é bem emocionante”
Manoel Silva – universitário
“Francisco era um papa alegre e carismático, lembrava o santo João Paulo II. Teve um olhar carinhoso para com as minorias, entendendo que todos são filhos de Deus e, portanto, nossos irmãos também. Francisco também foi duro em combater os casos de pedofilia que mancham a história da Igreja”.
Momentos marcantes
Pelo menos dois momentos ficaram especialmente marcados na cabeça dos paraenses nesses 12 anos de papado do argentino Jorge Bergoglio, o papa Francisco: o encontro, em 2017, no Vaticano, com “tia Socorro”, que em Mosqueiro criou um lar de acolhimento para crianças e adolescentes, e também quando a primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, deu de presente ao Santo Padre uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, em visita também à sede da Igreja Católica Romana, no ano de 2023.
O encontro entre “tia Socorro” e o papa Francisco foi viabilizado após ela ser reconhecida em uma edição especial do “Caldeirão do Huck” pelo trabalho com menores vítimas de violência sexual, violência doméstica ou abandono no distrito de Belém. Em determinado momento da gravação, ao lado do Pe. Fabio de Melo, ela revelou que tinha o sonho de conhecer Francisco.
Os três foram ao Vaticano em abril de 2017 e o sonho de Socorro foi realizado, como lembrou o próprio Huck em postagem feita ontem, no Instagram.
“Uma mulher que, na sua simplicidade, muito se assemelha ao Papa. Dedicou sua vida a cuidar de mais de 300 crianças e jovens com deficiência ou vítimas de violência, abandonados nas ruas de Belém. Agora, eles devem se reencontrar no céu. Que possamos seguir o exemplo de solidariedade, amor e união deixado por Francisco!”.
O programa, mostrando detalhes do encontro, realizado em abril daquele 2017, foi ao ar somente em agosto, apenas um mês depois de “tia Socorro”, aos 52 anos, ter falecido após um infarto, em julho.
Janja, por sua vez, conheceu o papa pessoalmente depois da primeira visita presidencial – deste atual mandato – de Lula (PT) ao Vaticano, em junho de 2023. A primeira-dama deu ao Papa uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Ainda de acordo com a presidência, Lula convidou o papa para fazer uma visita ao Brasil em outubro daquele mesmo ano, a fim de assistir ao Círio de Nazaré, em Belém.
Ao entregar a imagem para Francisco, Janja disse que gostaria muito que ele conhecesse o Círio de Nazaré. A visita do pontífice à capital paraense, no entanto, nunca aconteceu.
Isso não impedia que, anualmente, ele enviasse mensagens à Arquidiocese de Belém por ocasião do Círio. Para o Círio 232 (2024), o Santo Padre escreveu, em comunicado assinado pelo Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, direcionado ao arcebispo metropolitano, Dom Alberto Taveira:
«o povo fiel vem pedir a bênção à Santa Mãe de Deus; porque Ela é a Medianeira da Graça que brota sempre e apenas de Jesus Cristo, por Obra do Espírito Santo» (Homilia, 5 e agosto De 2024). Com efeito, sabemos que, durante o nosso peregrinar nesta terra, devemos sempre “Perseverar na oração com Maria, a Mãe de Jesus”, pois este é o caminho seguro para o Céu, nossa pátria definitiva sua Santidade implora à Nossa Senhora de Nazaré abundantes graças para todos os peregrinos do Círio E, de coração, lhes concede a bênção apostólica, pedindo que não deixem de rezar por Ele”.