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quinta-feira, janeiro 30, 2025
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Ananindeua: descaso compromete atendimento à saúde mental

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A busca por acolhimento e tratamento no Centro de Atenção Psicossocial 3 (CAPS III) de Ananindeua tem se transformado em uma jornada de dificuldades para pacientes e familiares. A unidade, localizada na Estrada do Maguari, no bairro Maguari, é destinada ao atendimento de pessoas em sofrimento psíquico grave, incluindo aquelas com transtornos mentais persistentes e dependência química. No entanto, relatos de descaso e infraestrutura inadequada revelam que o local está longe de cumprir seu papel.

Entre as queixas mais recorrentes estão a falta de médicos e psicólogos suficientes para a demanda de pacientes e a ausência de medicamentos essenciais. Além disso, constatado pelo DIÁRIO ontem (28), o espaço conta com uma estrutura precária – bebedouro sujo, assentos enferrujados; na recepção, inclusive, o balcão de atendimento está visivelmente deteriorado e o teto está cedendo, e há sinais de mofo em diversos pontos do ambiente.

Danielle Costa, 47, mãe da paciente jovem Dhully Vitória, de 19 anos, enfrenta uma rotina exaustiva para garantir o tratamento adequado da filha, diagnosticada com borderline. São, em média, 6 meses de espera para conseguir apenas uma consulta. “Minha filha tentou se cortar novamente, está em crise, e mesmo assim ninguém aqui do CAPS faz algo. O que enfrentamos aqui é um total descaso. Não há médicos suficientes, os remédios são escassos, só um dos medicamentos dela já é caro e deveria ser dado aqui”, desabafou.

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Ela relata que precisa arcar com os altos custos dos remédios necessários para o tratamento da filha, que devem ser assegurados pela rede de saúde, mas nunca estão disponíveis. “Em média, gasto cerca de R$ 700 por mês com os medicamentos dela. Meu marido compra, e graças a Deus tenho a ajuda da minha mãe e do meu filho. Mas há pessoas aqui que não têm nem condições e nem ajuda. O que elas fazem?”, questiona.

Outro problema apontado é a rotatividade de profissionais. Segundo os usuários, já há falta deles e, por outro lado, a troca constante de psicólogos e psiquiatras do quadro prejudica o acompanhamento dos pacientes. “Faz uns meses que estou correndo atrás de uma nova consulta dela [filha] aqui e demora uns 6 meses para conseguir. Eles encaminharam para um doutor, falei com esse médico e depois nunca mais. Já chegou a época de eu entrar aqui de manhã cedo com ela, e sair quase 15h da tarde sem resposta”, compartilhou a autônoma Edilene Creuza, 43, mãe de outra paciente da rede.

“Cada vez que mudam o profissional, é como se começássemos do zero. Isso faz mal para a minha filha e para nós, familiares, que também adoecemos com a falta de suporte. O acompanhamento contínuo é fundamental, mas aqui falta tudo”, afirmou Danielle.

Precariedade

A situação expõe não apenas a precariedade da saúde mental no município, mas a ausência de políticas públicas eficazes.

“Investem em praças, é só você olhar para o outro lado [aponta para o Parque Cultural Vila Maguary], está bonito, mas a saúde está abandonada. Aqui no CAPS, a estrutura é inadequada e não comporta a quantidade de pacientes que dependem desse serviço. Precisamos de ajuda urgente”, disse outro familiar que estava na espera de atendimento, mas que preferiu não se identificar com receio de retaliação.

Nota

A Prefeitura de Ananindeua, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), afirmou, em nota, que “o CAPS III conta com uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de psiquiatria, psicologia, psicopedagogia, assistência social e enfermagem nos turnos manhã e tarde”. A nota diz ainda que “nenhum dos psiquiatras se encontra de férias no momento”.

Em relação aos medicamentos, a gestão municipal garantiu, na nota, que são repostos mensalmente e, em caso de finalização do estoque antes do término de cada mês, é realizada nova reposição. A Prefeitura garantiu que “já foi assinada uma Ordem de Serviço para a construção de uma sede própria do CAPS III em Ananindeua”.

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