A busca por um corpo musculoso transformou o uso de anabolizantes em uma prática comum para quem prefere resultados rápidos no universo fitness. No entanto, por trás do desejo de um “shape ideal”, escondem-se sérios riscos à saúde, que podem ir de efeitos adversos imediatos a complicações graves ao longo do tempo.
Embora a promessa de resultados seja tentadora, os danos à saúde são, muitas vezes, irreversíveis, podendo afetar órgãos vitais, como o coração e o fígado, e até mesmo comprometer a fertilidade. O Conselho Federal de Medicina (CFM) contraindica o uso da prescrição de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes para a finalidade estética, ganho de massa muscular e melhora do desempenho esportivo.
“A primeira coisa que a gente precisa entender é que o uso de qualquer medicação deve ser baseada em um diagnóstico”, pontua Amanda Góes Palácios, médica endocrinologista, ressaltando que qualquer substância pode estar associada a efeitos colaterais e é necessário pesar os prós e os contras de cada medicação prescrita.
“No caso do uso de anabolizantes, estamos falando do uso hormonal para fins estéticos e, nesse caso, os contras são superiores aos prós. Os efeitos colaterais de curto prazo, que seriam aumento de pilificação, que é o aumento de pelos, excesso de acne, e engrossamento de voz; quanto efeitos de longo prazo, como aumento do risco cardiovascular, os tumores de fígado, hepatite”, explica.
Entre as principais consequências listadas, a endocrinologista cita que a principal é, não ironicamente, a estética, já que é utilizado para este fim. Entre os exemplos está também a queda de cabelos, a atrofia de mamas, atrofia de testículos e a ginecomastia no homem, que é o aumento da mama no homem. No segundo grupo de efeitos está, de fato, o aumento do risco cardiovascular.
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“Pode acontecer uma hipertrofia tanto de músculo esquelético como de músculo cardíaco, músculo do coração, além de aumento de pressão arterial; então, o uso de longo prazo pode estar associado tanto ao surgimento de tumores, cânceres, como a morte por infarto, AVC [Acidente Vascular Cerebral], além de questões relacionadas à infertilidade, que é um risco diretamente relacionado”, detalha.
O terceiro efeito é a infertilidade. “Utilizando uma dose de um hormônio em excesso, há o bloqueio da própria produção desse tipo de hormônio. Bloqueando a produção de hormônios tanto sexuais masculinos quanto sexuais femininos, na mulher, e isso pode levar a infertilidade”.
PROIBIÇÃO
Desde abril de 2023, a Resolução nº 2.333 do CFM proibiu a prescrição de esteroides e anabolizantes para fins estéticos e de desempenho. A decisão, segundo o Conselho, é fundamentada em evidências científicas que comprovam os danos à saúde, buscando proteger a população de práticas arriscadas e antiéticas, mas não coíbe sua indicação para o tratamento de doenças. No entanto, essa medida não conseguiu frear completamente o uso indevido, especialmente pela influência do uso das plataformas de redes sociais.
“Como o meio fit estético é extremamente atrativo, especialmente do ponto de vista financeiro, e do ponto de vista também de ‘venda de qualidade de vida’, [para] uma suposta saúde, acaba sendo fácil esquecer essas notas que saem pontualmente; através de blogueiros e influenciadores digitais, acabam sendo uma frequência de fonte de informação muito maior”, afirma Palácios. “Então, a venda, a divulgação dos benefícios do uso dessas substâncias, acabam sendo muito superiores à divulgação do malefício do uso dessas substâncias”, continua.
