Belém se prepara para receber novamente um dos maiores nomes da música popular brasileira (MPB). Toquinho está de volta à capital paraense nesta sexta, 10, quando apresenta “Um Show Para a Vida Toda”. Ao lado dele, a cantora Camilla Faustino, uma das vozes que vem se destacando dentro da chamada “nova MPB”. A dupla sobe ao palco da Assembleia Paraense, a partir das 22h.
O show rememora momentos da história de Toquinho, lembrando também amigos, compositores e parceiros que ajudaram a criar os clássicos que consolidaram seus 60 anos de carreira em uma trajetória de sucesso. Além de Camila, claro, Toquinho traz seu violão, para reencontrar o público que ele nomeia como “sempre acolhedor”.
“Cada vez que eu vou aí sempre me identifico muito com todos os hábitos, com a chuva cotidiana, com o tucupi. Tudo isso é muito especial. Então voltar é como um grande mosaico, se divide em vários prazeres”, diz o músico.
“Voltar a Belém é sempre um grande prazer, porque tem uma cultura muito forte. Em um país como o Brasil, que é um país tão grande, Belém se destaca sempre com muita personalidade, no lado gastronômico, por exemplo, que é uma coisa bem bem forte na minha memória. E cada vez que eu vou aí sempre me identifico muito com todos os hábitos, com a chuva cotidiana e com com o tucupi, tudo isso é uma coisa muito especial. E o público de Belém sempre foi um público acolhedor. Então voltar é como um grande mosaico, assim, se divide em vários prazeres”, declarou Toquinho.
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Compositor de mais de 450 músicas, 90 discos lançados e uma estrada de 15 mil shows pelo Brasil e pelo exterior, incluindo turnês pela Europa e América Latina, Toquinho está entre os grandes da música brasileira. Têm sua invenção músicas que estão na memória afetiva dos brasileiros, como “Aquarela”, “Tarde em Itapoã”, “Regra Três”, “Que Maravilha”, “O Caderno”, “O Pato”, “Samba de Orly” e tantas outras, com os mais diversos parceiros, como Chico Buarque, Jorge Ben Jor e Vinicius de Moraes.
A goiana Camilla Faustino vem se dedicando à música desde a infância. Chamou atenção em programas de TV, como “Gente Inocente” e “Programa Raul Gil” e abriu portas para o amadurecimento da carreira. Seu mais recente álbum, “Bossa, sempre Bossa”, uma homenagem aos 60 anos de Bossa Nova, foi indicado ao Grammy Latino.
Foi Raul Gil, aliás, o responsável pelo encontro dela com Toquinho, que se transformou em bem-sucedida parceria musical. Ao lado do violonista, esta será a segunda vez dela em Belém. “A expectativa para o show é que as pessoas se divirtam, se emocionem junto com a gente, e que a gente possa fazer essa troca sempre gostosa e positiva”, pontuou.
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Antes de chegar à cidade, Toquinho concedeu entrevista ao DIÁRIO por mensagem de áudio, respondendo a perguntas da repórter Wal Sarges. Falou de música, da vida, das pequenas e grandes importâncias. Leia a seguir.
P O que significa estar em Belém e se apresentar para o público paraense?
R Voltar a Belém sempre é um prazer enorme, pessoal e artístico, é um lugar que sempre me acolheu muito bem. E desta vez estou indo com a Camila Faustino, com um show que já estamos fazendo há algum tempo. Será muito bom rever o público de Belém e também poder usufruir da culinária do lugar. Estou muito feliz por isso.
P Escolher o repertório é um desafio, já que tem inúmeras canções de sucesso?
R Para escolher o repertório é um certo desafio, porque tem muitas canções, não só minhas, mas que atravessaram minha vida, de parceiros, de amigos que me influenciaram, isso tudo está no show. Claro que não é uma coisa absolutamente rigorosa, a ordem do repertório. Mas eu deixo uma flexibilidade para, dependendo do lugar, da situação, eu fazer um pouco mais de instrumental, mais infantil, mais para adulto, enfim. Isso é um pouco o público que decide no momento. É bom ter muitas opções, melhor do que não tê-las (risos).
P Fale um pouco sobre sua apresentação ao lado de Camilla Faustino. Como foi feito essa escolha e o convite?
R Trabalhar com Camila Faustino é muito fácil, muito bom, muito agradável, num nível pessoal e artístico. A escolha foi uma circunstância, foi um encontro num programa de televisão do Raul Gil. O Maurício Mattar, nosso amigo comum, me apresentou Camila, e depois eu precisei de uma cantora para viajar para a Colômbia, convidei. Depois que ela aceitou, não saiu mais. Então tem sido bom e muito prazeroso em todos os sentidos. É muito bom estar com ela.
P Sendo um artista consagrado com muitas composições de sucesso em uma carreira de décadas, o que é essencial para ter uma carreira tão longeva assim? Que mensagem você passaria para os mais novos, dada à produção musical que é tão diferente hoje em dia?
R Para ter uma carreira longeva, uma carreira que dure com uma linha que se perpetue, fácil não deve ser. Não posso falar muito porque eu vivi essa carreira. A fórmula é um pouco elástica. Tem muita coisa pra falar. Eu poderia dizer coisas que são pilastras da minha trajetória. Uma é a dedicação ao instrumento. Acho que quem quer estudar Direito, tem que estudar Direito, quem quiser fazer Medicina, tem que estudar Medicina. E quem quer ser músico, tem que estudar música, tem que tocar um instrumento bem, tem que se dedicar a isso. Senão a trajetória musical fica sem consistência. Um artista que não tem muito conhecimento musical pode fazer um, dois, três sucessos. Até um pouco mais, mas não muito mais que isso. É fundamental quem faz música, estudar música. Eu me dedico ao meu instrumento até hoje e sou muito leal a isso, não paro de compor. Eu vivo um eterno começo de carreira e levo muito a sério cada apresentação, cada função minha. Eu tenho que me apresentar o melhor possível. Claro que o ser humano tem defeitos, tem dias que está melhor, pior. Mas a gente tem que fazer o melhor naquele dia. E sempre com muita verdade artística. Empenho, cuidar-se bem, cuidar bem do físico, porque o artista precisa dele, e se dedicar muito. Levar muito a sério, não só a música, como a vida.
P O que representa estar num palco hoje, sobretudo, após o período de pandemia. É sempre um momento de celebrar a vida?
R Eu celebro a vida todo dia. Não é porque teve uma pandemia que eu vou celebrar mais. Eu celebrava antes, celebrei durante e continuo agora, pós pandemia. Acho que a vida é uma dádiva que tem que ser cuidada e tem que ser aproveitada, não só no âmbito profissional, artístico, mas é procurar um equilíbrio em tudo, na vida pessoal, profissional, amorosa, financeira, tudo isso faz você ter uma estrutura mais consistente para encarar o dia a dia, e as dificuldades que certamente virão. Temos que curtir a vida, sim, mas não de uma maneira irresponsável. De uma maneira prazerosa, usufruindo dela o máximo possível, desde uma cereja que você come, a um filme que você vai ver, até um espetáculo que você se dedica, o amor com a pessoa que você ama. Esse equilíbrio de vida e essa proporcionalidade é fundamental.
P Com tantas canções famosas e gravadas por outros artistas, como se dá seu processo de criação? Passa por algum ritual?
R O processo da criação, não existe uma fórmula. De manhã, eu pego o violão e já estou fazendo música. Poderia fazer músicas todo dia. Claro que quando você treina, quando você toca bem o instrumento, quando você se dedica a ele, as portas se abrem com mais facilidade para você fazer uma melodia…Mas uma canção dá muito trabalho para ser feita. Ou às vezes não, às vezes vem muito tsunami dócil e de repente está feita. Às vezes dá muito trabalho procurar a palavra certa, no som certo. Essa exigência, eu tenho cada vez mais forte comigo. E é claro, o artista que já fez mais de 500 canções, vive fugindo de sua própria sombra. A vida está cheia de desafios. Um deles, para o artista que já viveu, é fugir de sua própria sombra, fazer o que não fez ainda e com seu DNA. Fácil não é.