Irlaine Nóbrega/Diário do Pará- Caminhar em trilhas, meditar em praças e parques ou simplesmente trabalhar ao ar livre pode melhorar a saúde mental e até estimular a criatividade. Belém desponta como uma das capitais brasileiras com uma diversidade de espaços verdes ao ar livre que oferecem lazer e contato com a natureza.
O Ver-o-Peso é um dos símbolos mais marcantes de Belém do Pará. Local de passagem de milhares de paraenses e parada dos turistas, o espaço atrai pela diversidade gastronômica e cultural, mas também pela bela vista para a Baía do Guajará.
Há 10 anos Cláudia Pinheiro, 44, trabalha como boieira no Mercado do Ver-o-Peso, em um box situado próximo da Baía do Guajará. Em um espaço privilegiado, a venda das refeições atende muitos paraenses e visitantes que ficam encantados pela vista do rio e a passagem dos barcos que saem do porto mais próximo rumo ao município de Barcarena. Para ela, trabalhar olhando o movimento da maré, a mudança do tempo e com o vento da Baía batendo no rosto traz um bem-estar mesmo em meio a tantas demandas de atendimento ao público.
“Trabalhar aqui é muito bom. O povo sempre vem visitar e gosta de ficar mais para esse lado porque é bem ventilado, principalmente no final da tarde. É maravilhoso trabalhar olhando o rio, os barcos saindo e chegando e as pessoas chegando de hora em hora de outros municípios do Pará. Tem muito grupo de amigos que vem final de semana ou final da tarde tomar uma cervejinha e apreciar a vista da Baía. Os turistas, então, sempre ficam muito encantados, nos perguntam sobre o rio, sobre as ilhas”, disse a boieira.
Moradora de Parauapebas, Rillary Viviane, 23 anos, sempre retorna para a capital paraense uma vez por mês. Durante as visitas, ela não pode deixar de visitar os pontos turísticos de Belém, principalmente para apreciar a paisagem formada pelo céu azul, o extenso rio e a vegetação das ilhas de Belém ao fundo. Segundo a estudante, o momento de contemplação permite uma pausa na rotina corrida.
“Eu sou de Belém, mas moro em Parauapebas. Sempre venho aqui quando posso para ficar apreciando a nossa paisagem que é muito linda. Gosto muito de visitar a Estação das Docas também, ficar olhando o rio, pegar um vento e comer a nossa comida. Isso é uma coisa que só nós temos, a gente pode observar essa beleza toda quando a gente quiser e é sempre muito bom tirar esse tempo para só ficar olhando, dá uma sensação muito boa, o tempo parece que nem passa”, reflete.
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Com 50 anos de carreira no Ver-o-Peso, Nazaré Barros, 61, nunca se cansa de trabalhar observando a natureza. Com uma rotina que inicia logo nas primeiras horas da manhã, ela tem o costume de apreciar o rio e registrar a mudança da paisagem diariamente. Essa relação entre o ofício e o movimento da Baía tem permeado a sua vida há anos e a falta disso, mesmo que por um dia, a faz se sentir incompleta.
“Eu adoro trabalhar com o público aqui. Todo dia é uma história nova, assim como essa paisagem não é a mesma. Todo dia eu olho toda essa beleza, tiro foto cedo da manhã para guardar pra mim porque essa paisagem muda todo dia, assim como nossa rotina aqui. Eu já fiquei dois anos longe daqui e quis voltar porque não consigo viver sem tá observando essa vista, ter esse contato com a natureza mesmo na hora do trabalho. Quando o pessoal de fora vê, fica encantado e a gente tem isso perto sempre”, conta a vendedora de polpas de fruta.
Naturais do Ceará, Cláudio Regino e Cláudia Viana, 60 e 50 anos, já visitaram Belém quatro vezes juntos e amam a cidade. Segundo eles, a beleza da capital paraense é visível, principalmente na relação do urbano com as matas e os rios. Moradores de Fortaleza, eles dizem que mesmo sendo uma cidade litorânea banhada por praias muito bonitas, não há abundância em água doce, o que torna Belém diferenciada das demais capitais brasileiras.
“O encantamento já é na chegada no avião, pela quantidade de água, de verde, que a gente encontra aqui em Belém. Essa relação com a natureza é muito forte, principalmente pela paisagem humana interagindo com o meio ambiente”, disse o arquiteto. “Eu sou até suspeita para falar porque já vim a Belém seis vezes. Nós somos nordestinos e eu gosto de Belém demais por conta desse contraste entre a cidade, que é muito quente, e a fartura da água doce”, concluiu a administradora.
Portal
Com mais de seis quilômetros de orla, o Portal da Amazônia, localizado no bairro do Jurunas, é um espaço de lazer e turismo às margens da Baía do Guajará. Possui quadras esportivas, restaurantes, quiosques e áreas destinadas à prática de atividades físicas. A contemplação do pôr do sol, aos fins de tarde, também é uma das vantagens proporcionadas pelo espaço, que possui uma vista ampla para o rio.
O professor Luiz Carlos Cruz, 66, tem o costume de passear toda sexta-feira pelo Portal da Amazônia. Junto da mãe, uma senhora de 95 anos, que tem Alzheimer, eles vão até a área de lazer no intuito de observar os barcos passando no rio logo a frente. Luiz relata que o contato com a natureza é essencial para ambos, já que auxilia a desestressar da rotina dentro de casa ou no trabalho.
“Toda sexta-feira, a partir de quatro horas, a gente tá por aqui. Ela tem Alzheimer e quer ficar o tempo todo dentro de casa. Então, trago ela aqui para ver as pessoas, ver a paisagem, os barcos passando, pegar um vento. Para a gente é ótimo, é um dos melhores lugares que tem em Belém. E quando a gente vem passear a diferença é visível, ela fica mais comunicativa, conversa mais com a gente, fica mais disposta e isso é muito bom na idade dela”, disse o docente.
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A paisagem também é companheira diária de Jamili Barbosa, 27. Vendedora de coco no Portal da Amazônia, ela conta que já morou em Florianópolis, onde tinha o costume de olhar a vista litorânea da capital catarinense, mas nada comparado aos cenários de Belém. Há apenas um ano trabalhando em frente ao rio Guamá, ela diz que o movimento das marés é sempre surpreendente, principalmente aos finais da tarde devido ao pôr do sol.
“É maravilhoso ter todos os dias essa vista. Eu morei seis anos em Santa Catarina e tinha acesso a vista da beira mar, em Florianópolis, e eu sempre ficava olhando a paisagem. E mesmo assim eu acho a nossa paisagem muito única e diferente, não tem nada comparado ao nosso Pará. Eu sempre fico admirada, principalmente no final da tarde com a vista do pôr do sol, é bem bonito. Sinto que é um privilégio trabalhar e morar aqui perto e sempre estar apreciando esse ambiente”, afirmou.
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