O mês de novembro, tradicionalmente conhecido por inaugurar o inverno amazônico, tem apresentado volume de chuvas abaixo do esperado na Região Metropolitana de Belém (RMB). De acordo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Pará, até o momento – com base nos dados de até ontem (26) –, foram registrados apenas 113,3 milímetros (mm) de precipitação este mês, nível abaixo da média para o período, que é de 151,4 mm.
Essa condição reforça a percepção de que as características do inverno amazônico, marcadas por chuvas intensas e regulares, ainda não se consolidaram na região. O coordenador do 1º Distrito de Meteorologia de Belém, Adriroseo Raimundo Alves dos Santos, explica que o atraso no início do inverno amazônico está relacionado à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), fenômeno responsável por concentrar os ventos alísios e formar chuvas na região.
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“A zona ainda está posicionada entre 5 e 9 graus ao norte. Somente em dezembro, ela começará a se deslocar mais ao sul, aproximando-se de nossa região e intensificando as precipitações”, detalha. Ele acrescenta que, por enquanto, as chuvas pontuais e localizadas, que ocorrem são causadas por umidade oriunda do corredor amazônico, da região central do Brasil e apenas alguns fragmentos da ZCIT estão influenciando de forma fragmentada a RMB.
Conforme Adriroseo, esse comportamento irregular reflete a influência do fenômeno La Niña, que tem sido moderado, impactando o esperado para as condições climáticas. “O La Niña mais forte geralmente traz chuvas acima da média para nossa região. Neste ano, no entanto, estamos vivenciando uma situação moderada”, aponta.
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Segundo o especialista, os dados revelam um cenário parecido no Pará. Enquanto municípios como Itaituba, que está no corredor de umidade, registrou 270,5 mm acumulados, ultrapassando cerca de 148 mm, outros, como Tracuateua e Monte Alegre, praticamente não tiveram precipitações, ficando bem abaixo do esperado para novembro.
“Tracuateua, no nordeste paraense, este mês foi sem chuva, quando teríamos que ter 12,4 mm. Em Monte Alegre, também não houve chuva, quando teria que ter 61,8 mm”, detalha.
Outros anos
No ano passado, Belém apresentou uma situação ainda mais seca, com chuvas 10% abaixo da média devido à influência do El Niño – que, resumidamente, altera os padrões de vento e reduz as chuvas –. Em contraste, 2022 foi um ano de La Niña acentuada, quando a capital paraense registrou 359,2 milímetros de chuva em novembro, mais que o dobro da média aguardada, a de 151,4 mm.
PERSPECTIVAS
“Já era para a ZCIT estar mais próxima. A tendência é retardar o inverno amazônico”, diz. A expectativa do Inmet é que as chuvas intensas características do período comecem a se consolidar, de fato, a partir de dezembro. “Na RMB, o acumulado de precipitações para o trimestre é de 1.100 a 1.200 milímetros. Já nas regiões sul e sudeste do Estado, onde as chuvas são essenciais para a agricultura, o volume deve ficar entre 900 e 1.000 milímetros”, explica.
Em relação a perspectiva de temperatura, válida para o período de dezembro deste ano, janeiro e fevereiro do ano que vem, a média deve se estabelecer entre 25ºC a 27,5ºC.
Anomalia
Apesar disso, o meteorologista alerta para anomalias de precipitação que podem deixar os índices ligeiramente abaixo da média em algumas localidades. “Diferindo da média, vai ficar abaixo em torno de menos 10 a 50 milímetros na nossa região [metropolitana], entre novembro a março; já no sul do Pará, chuvas abaixo da média entre 60 a 70 milímetros”, observa sobre os dados referentes desde novembro a março do próximo ano.