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sábado, novembro 23, 2024
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Mapas expõem “vazio” de árvores na “Cidade das Mangueiras”

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“Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu”.

Os versos de Carlos Drummond de Andrade, escritos em 1945, ainda refletem uma realidade vista em diversas cidades do Brasil como em Belém: a ausência de árvores e flores em capitais do país.

Em julho de 2024, a “Cidade das Mangueiras” ficou mais de 15 dias sem chuva, o que assustou moradores e levantou preocupações como a mudança climática e as altas temperaturas, além do questionamento: onde estão as árvores de Belém?

Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), Belém é a capital menos arborizada do Brasil, uma situação crítica e um grande desafio para pesquisadores que trabalham com a natureza, como o professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Cândido Ferreira Neto.

Ele coordena o projeto “Caracterização da urbanização no município de Belém, semente do amanhã: Belém mais verde”. Os pesquisadores envolvidos nesta iniciativa estão mapeando cinco bairros da capital para saber mais sobre a arborização: Terra Firme, Guamá, Marco, Fátima, Batista Campos e Nazaré. De acordo com o professor, as árvores ainda estão mais localizadas no centro da cidade.

Guamá, o bairro mais populoso de Belém, carece de árvores | Foto: (Mauro Ângelo/Diário do Pará)
Túnel de mangueiras no centro de Belém indica concentração de árvores em áreas com Nazaré e Batista Campos. | Foto: (Mauro Ângelo)

“Os dados preliminares mostram que o bairro do Guamá é o menos arborizado, concorrendo aí com a Terra Firme. Os bairros de Nazaré, do Marco e Batista Campos, eles têm uma boa arborização. O bairro de Fátima também é um bairro bem pouco arborizado. Estamos verificando não só a quantidade de árvores, mas também a qualidade delas”, disse.

“Belém mais verde”: projeto mapeia árvores em Belém e revela desequilíbrio nessa distribuição vegetal na cidade. |Reprodução

As causas para a perda da cobertura vegetal em Belém são várias. Dentre as principais, estão o crescimento desordenado da cidade, projetos urbanos sem a arborização necessária e o desmatamento em quintais, frentes de residências e áreas de grandes prédios.

Sobre a arborização, o professor Cândido também pontua que a escolha das espécies é importante para dar mais conforto aos moradores e a quem frequenta parques e praças.

“Muitas das obras entregues não tem um projeto de arborização. São poucas árvores ou quase nenhuma e, quando são colocadas, são aquelas espécies que pouco dão sombreamento, são árvores que não eram para aquele local. Então são plantas que não deveriam estar naquele local ali, talvez a escolha também da árvore de forma equivocada”, indicou.

MAPEAMENTO

Em uma parceria do projeto “Belém mais verde” com Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém (Semma), alguns mapas foram divulgados mostrando onde se encontram as árvores, quais as espécies e quantas tem pelos bairros.

Os mapas a seguir mostram o levantamento mais recente dos bairros do Marco, Fátima e Nazaré. Confira:

|(Ewerton Moraes Aood)

Pelas imagens é possível perceber a diferença da arborização pelos bairros, ficando evidente a quantidade de espécimes bem distribuídas em áreas do Marco e Nazaré, por exemplo, enquanto Fátima a vegetação é escassa.

“A árvore é o ser vivo mais importante do planeta”

Dados do Instituto Nacional de Pesquisa (INPE) mostram que o desmatamento na Amazônia diminuiu 38 % no primeiro semestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023. Mesmo sendo uma boa notícia, as consequências da gradual retirada da vegetação na região são sentidas, principalmente, pelas mudanças no clima.

O professor Cândido Ferreira Neto explica que são diversos os impactos ambientais causados pela falta de arborização em áreas urbanas. O aumento da temperatura, o desbalanceamento da cadeia alimentar, a expulsão de animais de seu habitat natural são os mais comuns.

“O que eu digo é que a árvore é um dos seres vivo mais importante do planeta. Além de liberar oxigênio, uma árvore de médio porte é um habitat para vários outros seres vivos. Você pode encontrar nessa árvore fungos, bactérias, vírus, outras árvores epífitas, erva de passarinho, aranhas, insetos, pássaros. Isso quer dizer que quando eu tenho maior arborização aumenta a biodiversidade”, disse o professor.

Cândido Neto explica que uma árvore é habitat para uma série de outras formas de vida na natureza | Foto: Reprodução

Menos árvores, mais calor

O aumento térmico é outra preocupação quando se trata de áreas mais ou menos arborizadas. De acordo com Cândido, pode haver uma variação de temperatura entre 8 e 10°C de um bairro com mais árvores para outros com menos árvores, o que gera um desconforto para a população que procura por lugares com temperaturas mais amenas para praticar esportes, por exemplo.

“Muitos locais desses que são altamente arborizados, passa um lugar de paz para as pessoas e aí isso diminui o estresse, ansiedade, depressão, enfim. Locais arborizados valorizam muito isso. Áreas arborizadas, também proporcionam a parte econômica e social”, pontuou.

“As árvores retiram uma boa parte da poluição da atmosfera, então muito desses poluentes vindos de carros e indústrias, as árvores têm a capacidade de reduzir esses poluentes. Você tem um ar mais qualificado, mais puro. Você vai ter menos problemas respiratórios e outros tipos de doenças também”, observa.

A regra é clara: poucas árvores acarretam em temperaturas mais elevadas e menos qualidade de vida. | Foto: (Mauro Ângelo)

Cândido Neto comenta ainda que uma cidade mais arborizada também tem um impacto positivo para o sistema de saúde. “(Com mais árvores) você vai ter menos internações (por problemas respiratórios), menos pessoas ocupando leitos, menor gasto público”, diz.

A presença ou ausência de árvores tem também um efeito no mercado imobiliário. Bairros mais arborizados, como Nazaré, Marco e Batista Campos, conforme visto no estudo, têm o imóveis mais valorizados. O contrário também acontece: casas e prédios nas periferias sofrem com desvalorização por estarem e.

“Economicamente falando, você vai ver que nesses locais o metro quadrado é mais valorizado, então a economia também gira em torno de áreas mais arborizadas, com pessoas comprando mais, aproveitando mais os espaços para socializar, o metro quadrado dessas áreas é mais caro do que em áreas arborizadas”, concluiu o professor.

“Belém Mais Verde”

A ideia de mapear Belém surgiu de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da também professora da UFRA e coordenadora do projeto, Joze Nunes de Freitas, no campus de Capitão Poço, após o mapeamento de algumas cidades como Castanhal, Santo Antônio do Tauá e Ourém.

Joze Freitas: ideia de mapeamento trazida de municípios do interior para a capital |Reprodução

“Algumas cidades já estavam sendo mapeadas e quando no caso eu vim para Belém e tive a ideia de continuar e manter esse projeto na capital”, disse Joze Nunes. O projeto, que está completando 2 anos em uma parceria com a Secretaria Municipal do meio ambiente (SEMMA) é dividido em outros três “sub-projetos”: o mapeamento ou levantamento florístico de Belém, que quantifica e qualifica as árvores e as condições delas em áreas urbanas da cidade; a escolha de árvores para plantação; e a avaliação da poluição atmosférica.

“A gente vem trabalhando nesse processo de conscientização dentro da sociedade com as pessoas para um pequeno, médio, e longo prazo ir melhorando a nossa cidade e dando qualidade de vida melhor para as pessoas”, concluiu Joze.

Equipe Dol Especiais:

Reportagem: Laura Vasconcelos
Coordenação e Edição: Anderson Araújo

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