Eleita como Cidade da Gastronomia Criativa pela Unesco, Belém é internacionalmente conhecida por uma culinária de sabores ancestrais. Para fazer jus ao título, empreendimentos no setor da gastronomia são os principais responsáveis pela valorização de uma cultura alimentar múltipla, que explora os ingredientes da floresta de forma inteligente e responsável. Ao chegar na cidade, esses restaurantes são parada obrigatória por serem “a cara” de Belém.
A história da valorização da gastronomia belenense se funde ao início de um dos mais conhecidos restaurantes da capital: o Point do Açaí. Criado em 2002, o empreendimento começou pequeno, no pátio da casa de Nazareno Alves, na rua de Óbidos, na Cidade Velha. O desejo de sair da informalidade e apostar em algo próprio foi o que o motivou a investir na venda de peixe frito com açaí, muito inspirado nos trabalhadores que degustavam o prato no Ver-O-Peso.
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Com apenas duas mesas, ele passou a vender a refeição aos moradores do bairro, depois de um primeiro mês inteiro totalmente sem vendas. Mas foi depois de reunir os amigos no intuito de provar a refeição que o negócio, finalmente, deslanchou. Assim iniciou a trajetória de vender o prato fora dos mercados e grandes feiras livres de Belém. Atualmente, o Point do Açaí conta com nove unidades espalhadas pela capital paraense e se tornou parada obrigatória para os visitantes da cidade.
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Carro-chefe da casa, a chapa mista paraense, com porções de peixe, charque, camarão e frango, é o prato que mais cativa quem passa pelo restaurante, seja turista ou paraense. “Nós implementamos todos os pratos paraenses, então também tem pato no tucupi, tem maniçoba, tacacá, vatapá. Mas o mais pedido de todos é a chapa mista paraense, que acaba com as brigas em família com gente que não quer comer peixe ou camarão. Aqui a gente vende a nossa gastronomia, que é única e muito influenciada pela cultura indígena”, afirma o proprietário.
Ao longo de 22 anos de existência, o Point do Açaí também foi o responsável por derrubar diversos tabus culinários. Considerado comida de pessoas de baixa renda, o peixe frito com açaí passou a ser consumido em larga escala. Além disso, o mito de não consumir o vinho do açaí com outras frutas ou bebidas alcoólicas foi refutado pelo proprietário, que hoje vende as duas coisas juntas. Hoje, a gastronomia paraense alcançou novos patamares graças ao investimento em uma culinária ancestral potente.
“Hoje eu me sinto muito feliz porque cada vez tem chegado mais e mais turistas aos nossos restaurantes. Cada vez mais a gente tem fortalecido a nossa gastronomia, gerando mais emprego e renda, além de grandes negócios. Eu fiquei muito feliz de ter recebido uma paraense que mora na Austrália que também já está vendendo açaí com peixe frito em outro país. Muitos empresários se inspiraram no nosso trabalho que começou na porta de uma casinha”, destacou Nazareno Alves.
CULTURA
Há 11 anos, o restaurante Ver-O-Açaí abria as portas para ser um dos embaixadores da gastronomia paraense. Como resposta ao desejo antigo da mãe, que tinha amor pelos costumes amazônicos, Maurício Façanha inaugurou uma espaço que representasse a culinária regional, aliando a cultura à tradicionalidade no preparo dos pratos. Sendo assim, o conceito de culinária e cultura sempre andaram juntos desde o primeiro esboço do que seria o empreendimento: uma casa de representação da Amazônia paraense.
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Uma das premissas do restaurante é comercializar somente produtos amazônicos, com exceção daqueles que a região ainda não produz. Os refrigerantes, por exemplo, são os preparados e comercializados em nosso território, como o guaraná Rio Xingu, um dos mais antigos do Brasil. “A cara” do Pará está impressa em todas as paredes e no teto através de nove espaços que ilustram a cultura regional, de Icoaraci até São Caetano; além de obras de 65 artistas plásticos desconhecidos, em apenas uma unidade.
Nessa escolha, nem o nome do restaurante ficou de fora, uma mistura entre o local mais emblemático para Belém e o prato mais popular entre os locais e turistas. Ficou assim: Ver-O-Açaí. “Eu tinha vontade de fazer esse resgate do que é nosso. Então, eu juntei culinária, com as comidas que a minha mãe sempre preparava; e a cultura que eu aprendi quando eu morei nos sete estados da região Norte. Abrimos nossas janelas, teto, paredes para mostrar a cultura do nosso estado. Até há um tempo atrás eu diria que os clientes tinham preferência em um prato, mas hoje saem todos igualmente”, afirma Maurício.
PIONEIRISMO
Belém também está estampada nos doces. Um dos empreendimentos mais famosos e populares da cidade é a Sorveteria Cairu, inaugurada em 1963 pelo casal Armando e Ruth Laiun. O empreendimento é responsável pela criação de sabores regionais marcantes, como o açaí, tapioca e o “Carimbó”, este último eleito, em 2022, como melhor sorvete do Brasil no Festival Mundial de Gelato, na Itália. A inovação a fez ser uma das maiores representantes dos sabores amazônicos entre os paraenses e turistas.
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Atualmente, a Cairu está espalhada em cinco unidades pelo centro da cidade, presente nos quatro shoppings da capital e no distrito de Mosqueiro. De acordo com o proprietário, Armando Laiun Filho, a Amazônia sempre foi a maior inspiração para criação de sabores marcantes, genuinamente paraenses. Essa característica rendeu, em 2024, um espaço entre as 100 sorveterias mais icônicas do mundo pelo guia internacional TasteAtlas. A conquista a consolidou como Patrimônio Cultural de Natureza Material e Imaterial do Estado do Pará.
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Para Laiun Filho, a variedade de sabores regionais é o que traduz a riqueza amazônica, presente, inclusive, na própria marca. “Sabores como açaí, bacuri, uxi, muruci, castanha-do-pará, buriti, tapioca sempre são bastante procurados. E lançamos recentemente o novo sabor COP 30 que é uma alquimia de sabores com a fusão de duas castanhas, a do Pará e o pistache, com o doce de cupuaçu”, disse o proprietário.