As ruas de São Caetano de Odivelas, no nordeste paraense, se encheram de cores, música e alegria na terça-feira de Carnaval (4). O Carna Odivelas 2025 reforça a tradição do Boi Faceiro, arrastando foliões e mantendo viva uma manifestação que tem raízes da mistura da festa junina e o Carnaval.
A concentração ocorreu a partir das 18h, na travessa Antônio Baltazar Monteiro, centro da cidade. Entre os protagonistas, o Boi Faceiro seguiu acompanhado pelos pierrôs mascarados, cabeçudos e buchudos, embalados pelo som das bandas do município. Diferenciando a festividade do período junino, atrás dos cabeçudos estavam as portas-estandarte.
O cabeçudo, com sua imensa cabeça e gestos caricatos, arrancou risadas e danças do público. O pierrô mascarado – palhaço mascarado –, com sua fantasia colorida e o característico nariz pontiagudo, espalhou energia pelo cortejo. E o buchudo, sem padrão definido, completou a cena com irreverência.
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Resgatado em 1998 na quadra junina, mas apenas em 2006 o Faceiro passou a integrar os Bois de Máscara à programação carnavalesca, como forma de valorização da cultura local, carregando uma história que remonta à década de 1930. Coordenador do bloco, Rondi Palha, neto do Mestre Bené – pioneiro na brincadeira –, destaca a importância da identidade cultural.
“Eu me sinto com a sensação de dever cumprido, porque conseguimos inserir o Boi de Máscaras no Carnaval, mantendo viva essa tradição. Ano que vem, vamos completar 20 anos desse projeto, são 100 anos de tradição, que mistura elementos da cultura popular com a alegria do Carnaval”.
A figura do Boi em São Caetano de Odivelas pesa cerca de 60 quilos, é conduzida por duas pessoas, e ganha uma dinâmica que imita o movimento de um animal real, diferente dos tradicionais bois de um só brincante. Uma das pessoas que fazem o revezamento de dança no Boi é a estudante Ágata Fernandes, que não esconde a felicidade de “ser” Faceiro. “Desde os meus cinco anos de idade eu participo disso e posso dizer que eu amo estar aqui. Carregar o Boi cansa, mas vale a pena. Já pensei em sair de cabeçudo, mas ano que vem é eu de Boi Faceiro de novo”.
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A professora Edileusa Leal, 48, que acompanhava o neto Thomás Leal, 4, e o esposo Rafael Carmo, 39, na orla, não escondeu a empolgação. “Nasci aqui, saí apenas para estudar e voltei. E um dos pontos que mais sinto orgulho é o Carnaval, que faz parte da nossa história, e agora meu neto também vai crescer vivenciando essa tradição”, diz.
De pierrô mascarado pela segunda vez, outra entusiasta foi Eloysa Santos, 15, que teve o incentivo do pai e do irmão, veteranos no evento. “A gente tem uma cultura aqui em São Caetano que muitos admiram: os Bois de Máscaras, e eles encantam. E para mim é muito gratificante participar, eu sonhava com isso desde pequena. Essa cultura é nossa, e a gente precisa manter viva”.
A família de Jéssica Trindade, 26, também marcou presença. Nascida em Ananindeua, há 3 anos ela participa dos cortejos apenas acompanhando, mas este ano resolveu se jogar na folia como pierrô. Com o pequeno Adriano Vinicius, 3, e o esposo Andrey Marques, 28, a atendente garantiu que não perde mais nenhum ano do arrastão do Boi Faceiro. “O que me encanta é que é um Carnaval familiar, seguro para crianças e repleto de cultura”.
“Nasci, fui criado aqui e isso representa o que eu sou. Não tenho boi preferido, saio em vários outros blocos, porque amo momentos como esse. O incentivo está sendo passado para o Adriano e para os meus outros filhos, um de 11 anos e o outro de 7”, acrescentou Andrey.
Além dos personagens principais, na programação estava também o concurso de fantasias. A estudante Iracema Favacho, 17, saiu do bairro da Sacramenta, em Belém, e garantiu que a família paterna se fantasiasse mais um ano para concorrer ao concurso. “A gente espera o ano todo por esse momento. Aqui, a fantasia tem que ser pensada com antecedência, porque faz parte do brilho da festa”, comentou, fantasiada de Ninja.
Morando em São João da Ponta há 13 anos, a vereadora Giordana Oliveira, 35, retornou à terra natal para aproveitar a folia. “O Carnaval de Odivelas é único, e o Boi Faceiro é uma das melhores partes”.
A prefeita de São Caetano de Odivelas, Leila Felipa, ressaltou a importância do evento. “São Caetano de Odivelas é um município culturalmente muito rico e é uma forma de mostrar para o Pará, para o Brasil e para o mundo que somos uma mistura de colorido, de música, de som, de ritmo”. O cortejo do Boi Faceiro percorreu a avenida São Benedito em direção a avenida Floriano Peixoto, destino a orla da cidade.