32 C
Belém
sexta-feira, maio 9, 2025
Descrição da imagem

Dia Mundial do Gótico: 15 anos de som e resistência

Date:

Descrição da imagem

No início era apenas uma resenha. Em outubro de 1967, o crítico John Stickney cunhou o termo Gothic Rock ao descrever a sonoridade sombria do The Doors no The Williams Record. Mal sabia ele que aquela expressão ganharia corpo — e uma legião de devotos — ao longo das décadas.

Embora o The Doors tenha sido um dos catalisadores do gênero, a estética gótica nasceu da fusão de influências como David Bowie, The Velvet Underground, Iggy Pop e Brian Eno. No fim dos anos 70, o termo “gótico” começou a ser associado à emergente cena pós-punk, com bandas como Magazine (banda britânica), Siouxsie and the Banshees e Joy Division pavimentando o caminho.

Na década de 1980, o movimento explodiu com nomes como Play Dead, Flesh for Lulu, Blood and Roses, The Cure e Ausgang. Nos Estados Unidos, o som ganhou contornos mais punk — nascia o Deathrock, com Christian Death e 45 Grave. Dessa ramificação nasceram outros subgêneros, incluindo o Black Metal, Death Metal e o chamado American Goth.

Conteúdo relacionado:



O pós-punk brasileiro ganhou forma no início dos anos 80, especialmente em São Paulo, onde casas noturnas como o lendário Madame Satã e selos independentes como Baratos Afins e Wop Bop serviram de incubadora para uma geração inquieta. Foi lá que surgiram bandas como os Voluntários da Pátria, que, mesmo com apenas um disco lançado em 1984, deixaram sua marca no underground com influências claras de Gang of Four e The Cure. Em Brasília, o espírito crítico e melancólico do gênero encontrou eco na Legião Urbana, que estreou em 1985 com um álbum homônimo e hinos como “Será” e “Geração Coca-Cola”, vendendo mais de 550 mil cópias e cravando o pós-punk no coração do rock nacional.

No Rio de Janeiro, os Picassos Falsos trouxeram uma abordagem mais experimental e tropical, alcançando projeção com faixas como “Carne e Osso” e “Quadrinhos” — essa última eternizada na trilha sonora do programa Armação Ilimitada sem esquecer de Vange Leonel com o seu hit “Noite Preta” trilha da novela Vamp de 1991.

No Pará, em meados dos anos 90, a banda Anjos do Abismo incendiava as noites das casas alternativas como o lendário La Cage, misturando batidas sombrias com uma estética vitoriana marcante. Sua presença abriu caminho para a emergência de nomes como Elegia e posteriormente Pianuts, que ajudaram a moldar a cena gótica local. Hoje, esse legado é mantido vivo por novas gerações, representadas por bandas como Castelo de Vidro, Noctlure e pelo cantor Davi Lira, que continuam a expandir os limites do som sombrio na Amazônia urbana. Assim, o pós-punk no Brasil se espalhou pelas principais capitais, dando voz e estética a uma geração urbana, politizada e em busca de identidade.

Apesar das variações, há algo que une todos esses caminhos: uma estética carregada de influência da literatura gótica e do cinema de terror — e uma atitude que resiste ao tempo.

Ironia do destino: o gótico sobreviveu — e prosperou. É uma das poucas subculturas que conseguiu atravessar décadas mantendo identidade, estética e relevância. Mesmo o mais leigo reconhece um gótico: roupas pretas, olhos delineados, referências vitorianas e um ar de poesia sombria. E sim, em 2025, essa tribo está mais viva do que nunca.

No dia 22 de maio, o mundo inteiro mergulha em sombras, veludo, sintetizadores e existencialismo. O World Goth Day chega à sua 15ª edição como um dos eventos mais importantes da cena alternativa global — e a América Latina está bem no centro do evento.

Criado em 2009 por dois DJs britânicos após uma semana temática na BBC Radio 6, o WGD se espalhou como fogo cruzando cemitérios. Um dos cofundadores, DJ BatBoy Slim, ainda se impressiona:





Mas não se trata apenas de nostalgia ou estética. O WGD é, sobretudo, uma afirmação de identidade. É sobre encontrar beleza na escuridão — e, mais do que nunca, isso parece urgente.

Para Mia Gonçalves, DJ e colecionadora de vinis em Belém, o evento é um momento de comunhão e introspecção:




Este ano, a agenda na América do Sul está mais cheia do que nunca: festas, exposições, tributos e rituais urbanos atravessam o continente. Confira alguns destaques:

Agenda de Eventos — América Latina

Brasil

  • 3/05: Tributo a Ian Curtis – Batista Campos, Belém
  • 17/05: World Goth Day – La Beer Rock Pub, Ananindeua (PA)
  • 23/05: World Goth Day @ Dusk Coven – Rua Barão de Itapemirim, 200

Bolívia

  • 10/05: Jazz Stop Presenta: World Goth Day – Cochabamba
  • 17/05: Darkroom Casa de Piedra – La Paz
  • 17/05: World Goth Day – BeerCat Café Concert, Sucre
  • 24/05: World Goth Day – Juan Sebastian Restobar, La Paz
  • 24/05: World Goth Day (La Paz) – Hells Bells, Hotel Madrid, La Paz

Chile

  • 17/05: World Goth Day Valparaíso – Espacio Valpo
  • 24/05: Noctis Aeterna – Club Segundo Piso, Valparaíso
  • 24/05: Expo Demona – World Goth Day – Santiago

Peru

  • 17/05: World Goth Day Lima – La Residencia Club
  • 24/05: World Goth Day Zodiaco – Vuela Club, Breña

Paraguai

  • 23/05: World Goth Day PY II – La Taberna Café, Assunção

Equador

  • 30/05: World Goth Day Cuenca – GaraCultura, Cuenca

Confira no link a programação ao redor do mundo.

Quer mais notícias do música? Acesse o nosso canal no WhatsApp

Seja em pubs escuros ou galerias iluminadas por velas, o World Goth Day segue como um ritual moderno — onde o passado sombrio encontra o futuro criativo. Uma celebração global da beleza marginal, que ignora modismos e reafirma seu lugar no mundo com batom escuro, poesia decadente e muito reverb.

Compartilhe

Descrição da imagem

Mais Acessadas

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Descrição da imagem