Even Oliveira/Diário do Pará – A Amazônia, com sua imensa biodiversidade e riqueza cultural, está no centro de um dos debates mais urgentes do século: a luta contra as mudanças climáticas, especialmente antecedendo a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-30, marcada para 2025 em Belém. Mais do que um bioma, ela é lar de comunidades cuja relação com a terra transcende o simples uso de recursos naturais; elas desempenham um papel vital na conservação ambiental como um dos principais reguladores do clima.
A Amazônia, como um todo, é a maior floresta tropical do mundo, localizada na América do Sul, abrangendo nove países, sendo eles Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Já em termos nacionais, há a Amazônia Legal, que é uma região administrativa do Brasil que inclui nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso.
Destes estados, a Região Norte, que abriga sete dos primeiros listados anteriormente, compõem a maior parte de território da Amazônia Legal. No Brasil, de acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, existem 203.080.756 milhões de habitantes. Só a Região Norte abriga 26,7 milhões deles.
Dentre esse número populacional, existem os povos tradicionais, compostas por indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, os mais afetados pelos desafios climáticos. “Que podem ser catadores, extratores, pescadores, pessoas que utilizam os rios da floresta para algum fim, não só da floresta, mas a natureza, e estabelecem alguma relação de dependência”, explica o biólogo Davison Assis, 32, doutor em Ciências Ambientais.
Para o pesquisador, as comunidades enfrentam desafios complexos diante de fenômenos extremos. A perda de território ligada a eventos climáticos intensos como, por exemplo, secas e incêndios ocasionam danos muitas vezes irreversíveis nos espaços que as populações estão estabelecidas. “Essas pessoas são sistematicamente forçadas a migrar, o que representa uma ameaça não apenas à sua identidade, mas também à continuidade de práticas sustentáveis que evidenciam o modo de vida tradicional”, destaca.
Outro fator de preocupação são as altas temperaturas, resultante destes processos, como os incêndios. “O aumento da temperatura global, intensificado sobretudo pela emissão de gás carbônico (CO2), o bioma tem experimentado períodos de secas preocupantes, ocasionando um cenário propício para o fogo”, observa.
“As secas dos rios e o fogo comprometem não somente as formas de vida silvestres, como também as populações que dependem dos recursos provenientes dos rios e da floresta”, acrescenta. Como consequência, os modos de subsistência, como a atividade de pesca e plantações da agricultura familiar podem ser afetadas, comprometendo a segurança alimentar de inúmeras famílias.
POTENCIAL
Contudo, apesar dos desafios, o pesquisador aponta que os saberes locais possuem um potencial imensurável para estratégias de mitigação e adaptação a possíveis crises do clima, já que essas populações têm um profundo conhecimento da dinâmica ambiental.
“As populações tradicionais desempenham um papel crucial na conservação da floresta, pois suas práticas de cuidados com a terra revelam saberes ancestrais que contribuem para a manutenção da floresta em pé. Além disso, muitos povos tradicionais estão estabelecidos em áreas de proteção ambiental, atuando como verdadeiros guardiães da floresta”, frisa.
Elas entendem as dinâmicas das mudanças climáticas, o que, somado aos dados científicos, podem gerar soluções eficazes. Com os estudos voltados a algumas áreas no Arquipélago do Marajó, na Amazônia Oriental, Davison conclui que estes grupos apresentam profundo conhecimento sobre a variabilidade ambiental.“Essas percepções, em consonância com os dados, constituem-se como um importante indicativo para a emergência de ações de adaptação e enfrentamento. Por isso, para se falar em conservação, os povos tradicionais e seus saberes precisam ser considerados, incluídos e ouvidos em discussões, acordos e tomadas de decisão, a exemplo a COP-30”, finaliza.
“As secas dos rios e o fogo comprometem não somente as formas de vida silvestres, como também as populações que dependem dos recursos provenientes dos rios e da floresta” Biólogo Davison Assis, 32, doutor em Ciências Ambientais.
EM NÚMEROS
O Pará, estado mais populoso da Amazônia Legal com 8.120.131 milhões de habitantes, tem sido um dos focos das iniciativas de preservação e desenvolvimento sustentável. Dentro do território paraense, em números, há 135.033 pessoas autodeclaradas quilombolas, o que coloca o Estado na quarta posição no Brasil. Em relação aos indígenas, o Pará tem 80.974. Os dados são de 2022 do IBGE.
Rodeado de rios, tendo como base uma parte do Estado, que é o Arquipélago do Marajó, de acordo com a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), com base ainda no IBGE, a população marajoara estimada, em 2022, era de 591.064 habitantes, distribuída entre 17 municípios.
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