Ascom/UFOPA – Pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) realizaram, durante uma semana entre o fim de janeiro e início de fevereiro, o mapeamento de populações naturais de castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) no mosaico das unidades de conservação de Carajás, na região Sul do Pará.
Essa atividade marcou a primeira etapa de execução do projeto de pesquisa “Estrutura e dinâmica populacional da castanheira no mosaico de unidades de conservação de Carajás”, coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Scoles (Ufopa) e executado em campo pelo engenheiro florestal e doutor em Botânica Marcos Vinicius Batista Soares, bolsista de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA) da Ufopa, em parceria com o NGI Carajás do ICMBio e financiamento da Fundação Tecnologia Florestal e Geoprocessamento (Funtec/DF). “O objetivo principal desta pesquisa é avaliar o estado de conservação das populações de castanheiras no mosaico de áreas protegidas de Carajás, pressionadas há décadas pelo avanço da agropecuária e mineração”, explicou Scoles.
Durante esse mapeamento dos castanhais da região da Serra dos Carajás, a equipe de pesquisa contou com a inestimável participação do cacique Roiri Xikrin. O principal resultado deste trabalho foi a seleção e delimitação de castanhais com histórico de extrativismo tradicional para elaboração de parcelas de estudo e monitoramento das populações de B. excelsa”, completou o coordenador da pesquisa. Xikrin é uma das lideranças indígenas responsável pela cordenação das coletas na região do Carajás.
O projeto pretende ampliar o conhecimento sobre a região das áreas protegidas de Carajás, visando à melhor gestão do território; para isso, objetiva estudar a estrutura e dinâmica populacional da castanheira-do-brasil ou castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl.) em três unidades de conservação do Mosaico de Áreas Protegidas de Carajás (MAPC), Floresta Nacional de Carajás (Flonaca), Floresta Nacional de Tapirapé-Aquiri (Flonata) e Reserva Biológica de Tapirapé (Rebiota).
“Para uma melhor compreensão da dinâmica populacional de uma espécie arbórea de longa vida como a castanheira, é relevante desenvolver estudos demográficos das populações de castanheira-do-brasil nas suas áreas de ocorrência que garantam uma gestão sustentável mediante um efetivo monitoramento que permita a elaboração de indicadores de manejo e aplicação de modelagem florestal com predições futuras e incertezas associadas. Com isso, pode-se avaliar as tendências demográficas das suas populações ao longo do tempo. Poucas experiências de monitoramento das populações de castanheira a médio ou longo prazo há na Amazônia, a exceção da região de Trombetas”, alertou Scoles, que desde o ano 2021 vem chamando a atenção para essa situação.
Para os pesquisadores, a principal ameaça ambiental dentro do território do mosaico é a mineração, que extrai, de forma intensiva, ferro e outros minerais (cobre, manganês, ouro e níquel) na Flonaca e na Flonata, principalmente. Já no entorno das UCs do Mosaico de Carajás, destaca-se a pressão das atividades agropecuárias e garimpeiras, além do desmatamento.
O pesquisador esclarece ainda que os castanhais ocupavam extensas áreas por toda a região de Carajás e Marabá (Polígonos dos Castanhais), até a chegada da frente agropecuária e mineral. Atualmente, as populações de castanheiras do Sudeste paraense concentram-se principalmente no mosaico de áreas protegidas. Os principais coletores de castanhas nessas áreas são os indígenas Xikrin (principalmente na Flonaca e Flonata) e os agroextrativistas que residem nos projetos de assentamento e na vila Lindoeste, em São Felix do Xingu (PA), no entorno da Flonata. Contudo, o estudo e o monitoramento da dinâmica das populações naturais de B. excelsa na região de Carajás são muito relevantes em termos técnico-científicos para a consolidação do programa de conservação dos castanhais em Carajás. “Ainda que a espécie esteja protegida pela lei do corte, é classificada como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), e sua situação na região do Sudeste do Pará é altamente preocupante devido ao desmatamento acumulado”, destaca Scoles.
Expedições – Serão realizadas quatro expedições de campo com uma duração entre duas e três semanas cada uma. Para a Flonaca, estão previstas duas expedições no primeiro semestre de 2025: a primeira missão está prevista para ocorrer durante o período da safra (entre janeiro e março) para mapear os castanhais coletados em parceria e consentimento com os indígenas Xikrin; já a segunda missão está prevista para ocorrer após a finalização da safra, no mês de maio, e objetivará inventariar populações de castanheiras previamente selecionadas em parcelas. As outras duas expedições seguirão cronograma definido e devem ocorrer até o mês de setembro de 2025. A finalidade é sempre medir e remedir as castanheiras monitoradas cinco anos atrás para cada uma das duas unidades de conservação e instalar parcelas permanentes para estudo e monitoramento dos castanhais do mosaico nos próximos anos.
Sobre a castanheira – A castanheira-do-brasil, popularmente conhecida como castanheira-do-pará, é uma árvore de grande porte que sobressai no dossel florestal (estrato emergente) e se distribui de forma descontínua por toda a bacia da Amazônia. Uma das características mais marcantes da castanheira-do-brasil é seu caráter social, ou seja, a tendência de formar aglomerações naturais com alta concentração de árvores (castanhais); de acordo com estudos de pesquisadores brasileiros, são registradas entre cinco e 20 árvores por hectare.
Esta espécie amazônica produz um fruto lenhoso com sementes comestíveis em forma de amêndoas, chamadas popularmente de castanhas-do-brasil. Estas sementes são muito apreciadas a nível regional, nacional e internacional e são frequentemente coletadas para sua comercialização (valor de troca) ou uso doméstico (valor de uso) pelas comunidades tradicionais da Amazônia. Por causa dessas castanhas, B. excelsa é considerada um dos recursos florestais mais importantes da Amazônia, competindo com os frutos de açaí na liderança da geração de renda oriunda de produtos florestais não madeireiros, de acordo com relatórios divulgados pelo IBGE.
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