Irlaine Nóbrega/Diário do Pará – Localizado na área urbana de Belém, o Parque Estadual do Utinga “Camillo Vianna” é um dos principais refúgios ecológicos da região, desempenhando um papel essencial na conservação da biodiversidade amazônica e no abastecimento de água da capital paraense.
Com mais de 1,3 mil hectares de floresta preservada, o parque abriga diversas espécies do bioma amazônico, um dos principais mananciais da cidade e proporciona a prática de atividades ao ar livre, reforçando a importância do meio ambiente e qualidade de vida da população. Com 470 mil visitas somente em 2024, o parque desenvolve um papel essencial de conscientização através do contato com a natureza.
De acordo com o gerente do Parque Estadual do Utinga, Júlio Meyer, a floresta do Utinga é protegida há mais de 100 anos, apesar de ter sido utilizada, em parte, para a plantação de café e no engenho de açúcar, durante o século 19. Atualmente, integra um grande mosaico de áreas protegidas, composta pelo Parque, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Região Metropolitana de Belém e o Refúgio da Vida Silvestre Metrópole da Amazônia, que inclui o território quilombola do Abacatal.
Ao todo, essas áreas somam cerca de 10 mil hectares de floreast que fazem parte do chamado “Centro de Endemismo de Belém”, uma das oito regiões da Amazônia, também considerada a de maior biodiversidade. Com grande relevância para o território amazônico, o Utinga se tornou uma Unidade de Conservação (UC) em 1993, na categoria “parque”. A denominação foi essencial para três grandes objetivos: a proteção dos mananciais Bolonha e Água Preta, da biodiversidade e a promoção da vida ao ar livre.

“Foi muito importante porque deu essa destinação não só de proteger os mananciais, mas também para o ecoturismo, para as atividades esportivas, para o lazer, para a recreação. Fazer essa recreação contribui muito com a própria proteção dos humanos com os animais, porque agora as pessoas podem conferir essa natureza, pode ter uma experiência agradável nesse ambiente, e com isso tem mais amor por ele, dentro daquela máxima de que a gente só protege aquilo que a gente conhece, então ecoturismo é uma estratégia potentíssima para a conservação desse ambiente”, explica Meyer.
ÁRVORES
Em uma área equivalente a 1,4 mil campos de futebol, o Parque do Utinga abriga mais de 800 espécies de árvores, catalogadas com o auxílio do Museu Emílio Goeldi. Os vegetais compõem uma grande variedade de paisagens, como floresta de terra firme, de várzea, igapó e campinaranas, uma vegetação de rara reprodução na Amazônia, além de plantas ornamentais, como bromélias e orquídeas.
Os lagos Bolonha e Água Preta são o habitat natural de diversas plantas aquáticas, que têm o papel essencial no funcionamento desses ecossistemas, melhoria da qualidade da água e abrigo de alimento para os animais aquáticos. O Parque também possui espécies de árvores amazônicas ameaçadas de extinção, como a castanheira, a virola ou ucuúba e a seringueira.

Por outro lado, a fauna presente no Parque é bastante variada, composta por mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, entre outros. Por isso, a área é frequentemente visitada pelas preguiças, macacos-de-cheiro, pacas, saguis, cotias, capivaras, veados, tatus e tamanduás, além de espécies menos avistadas, como a preguiça-real e o tamanduaí.
Outra população que se destaca é a das aves. Em parceria com o Clube de Observadores de Aves do Estado do Pará (COAPA), o Parque do Utinga tem trabalhado para identificar e catalogar todas as espécies que habitam a Unidade de Conservação. Atualmente, o registro revela 325 espécies desses animais, entre tucanos, araçaris, beija-flor, e algumas delas bastante raras.
“Temos duas espécies de destaque muito grande. A primeira é a ararajuba, que a gente resgatou aqui nos céus de Belém, por meio do Projeto Ararajuba, uma parceria entre o Ideflor-Bio e a Fundação Limiton. A gente já reintroduziu mais de 50 ararajubas que estão em vida livre e já reproduzindo, já temos ararajubas belenenses e é uma espécie que estava localmente extinta. Ela é toda amarela com a ponta da asa verde. É uma espécie bem legal porque simboliza muito o estado do Pará, mas também o Brasil”, revelou o gerente do Parque do Utinga.
A segunda espécie é o uiraçu falso, uma ave muito similar a um gavião real, porém de menor porte. “Ele foi avistado aqui pela primeira vez no final do ano passado e a gente identificou um indivíduo voando em cima do lago Bolonha. A gente já sabe que ela é uma fêmea adulta, grande e está sempre no mesmo local. Já chegamos a identificar um ninho abandonado dela aqui na APA Belém. Então, sabemos que ela tem moradia aqui e a gente vem monitorando a presença dessa espécie. E é uma espécie muito rara, muito parecida com um avião real. É um achado dentro da Região Metropolitana de Belém”, divulga Júlio Meyer.
Com 90 espécies de peixes catalogadas, a área de conservação também abriga o gigante da Amazônia, o pirarucu, além de aruanãs, tucunarés e outras espécies ornamentais. O número expressivo coloca o Parque do Utinga como o espaço com uma das maiores biodiversidades de peixes do mundo.
Por fim, o Parque ainda conta com a presença de diversos répteis, como as inúmeras espécies de quelônios registrados, como tartarugas da Amazônia, tracajá, pitiú, jabutis, além de pequenas espécies de jacarés e serpentes.
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