Irlaine Nóbrega/ Diário do Pará – O termo chave para o ano de 2025 é “Consciência ambiental”. Ele diz respeito à compreensão do funcionamento do meio ambiente e os impactos das ações humanas sobre os recursos naturais, sendo necessário a ação coletiva para manter os ecossistemas vivos. Às vésperas da realização da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 30) é preciso deixar os velhos hábitos para trás e aderir a um comportamento sustentável que inclui desde o descarte correto de resíduos até a reflexão sobre os modos de exploração da natureza. É tempo de colocar na balança as nossas atitudes visando o combate da crise ambiental.
O descarte indevido de resíduos sólidos é o principal problema a ser combatido neste novo ano. Isso porque o plástico é um imbróglio mundial, responsável pela poluição de biomas aquáticos e terrestres. De difícil decomposição, milhões de toneladas desse material inundam os oceanos ano após ano, comprometendo a regulação do clima, a produção de oxigênio e a disponibilidade de alimento proveniente dos mares, como peixes e mariscos. Sufocados pelo microplástico, esses animais têm a capacidade de absorção de nutrientes reduzida e morrem debilitados.
Sempre muito observador, o Papai Noel Pai D’Égua já identificou que o problema do descarte de lixo está muito presente no comportamento da população paraense. É ele o responsável por encher os canais e entupir os bueiros que, como consequência, alagam as ruas dos bairros mais periféricos de Belém. Mas a questão não se resume à área urbana do estado, sendo comum o descarte indevido em praias, rios e igarapés, destino de dezenas de paraenses e turistas durante as férias escolares.
“Eu faço viagens e observo muito que as pessoas dentro dos barcos descartam muito lixo inadequadamente nos rios. E dentro dos barcos, existem os locais adequados para isso. Vejo que as pessoas ainda jogam plástico e garrafas de vidro, materiais que custam muito para serem absorvidos pela natureza e deixar de existir”, aponta Mário Rego, artista que dá vida ao personagem natalino. Segundo o Bom Velhinho, além de descartar os resíduos corretamente, é preciso prezar pela preservação da floresta nativa amazônica, rica em biodiversidade, que inclui espécies de pequenos, médios e grandes vegetais, como a samaúma, árvore sagrada para os povos indígenas, servindo de abrigo e proteção para pássaros e insetos. Altas, baixas ou rasteiras, as espécies da flora amazônica são responsáveis por regular o clima, combater o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Patrimônio
Considerado patrimônio natural da humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Umesco), o bioma tropical da Amazônia ainda é residido por animais mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes e invertebrados. Juntos, eles são uma peça importante para o equilíbrio do ecossistema, já que cada um desempenha uma atividade importante para a floresta. Alguns deles são responsáveis pela adubação do solo, enquanto outros dispersam sementes, fazem a polinização ou predam animais menores, evitando a superpopulação de espécies.
“A natureza é linda. Ela nos dá tanta coisa que a gente não se dá conta disso. O próprio ar que nós respiramos é proveniente da natureza. O orvalho, as frutas, as próprias árvores, mesmo que não frutíferas, todas contribuem para o meio ambiente. Então, da natureza a gente colhe tudo, tudo para a nossa vida. Ela é extremamente fundamental para a nossa existência tanto na cidade como nos interiores e, por isso, é tão importante preservá-la e combater o desmatamento da nossa floresta amazônica”, afirma o Papai Noel.
Educação
A educação é a principal aliada ao grande desafio de frear a intensificação da crise climática global. Localizados em território amazônico, os paraenses têm um dever importante: mostrar ao mundo que a natureza e o homem podem conviver com respeito. Para isso, é preciso rever os atos danosos ao meio ambiente e aderir a práticas sustentáveis básicas, como a reciclagem, que, além de beneficiar o meio ambiente, é a principal fonte de renda de milhares de famílias que sobrevivem da separação dos resíduos sólidos. “Falta educação para termos um futuro mais sustentável. Eu acho que a palavra básica é a educação, seja ela familiar ou nas escolas para orientar desde cedo as crianças. Em primeiro lugar, a gente tem que refletir o que estamos fazendo que não é legal, que vai contra a preservação da natureza. Em 2025, a COP 30 está vindo para nos dar mais esse impulso e mostrar que ainda dá tempo de reverter a crise climática mundial e reflorestar a natureza que está sendo devastada”, finaliza o Papai Noel Pai D’Égua.
“Manter plantas e animais, e micro-organismos, é manter a vida funcionando”, diz pesquisadora
De acordo com a zoóloga Marlúcia Martins, coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi, ao longo de milhares de anos, os organismos vivos têm evoluído para a composição da biodiversidade atual do planeta, através de um funcionamento harmônico entre espécies. O surgimento do homens, entre 8 a 6 milhões de anos atrás, também foi o início das intervenções nos sistemas naturais, desde a caça ao descobrimento do fogo, sendo intensificadas, mais tarde, pela agricultura, industrialização, guerras, o crescimento das cidades, revolução agrícola, sendo esses processos civilizatórios responsáveis pela extinção de muitas espécies.
“Essas extinções têm se intensificado a partir da Segunda Guerra Mundial com os modos de produção e intervenção humanas com demandas energéticas crescentes, as demandas agrícolas, a forma da economia através dos excedentes de consumo, do crescimento e verticalização das cidades, tudo isso vem colidindo com os processos naturais de evolução da vida e de incremento da biodiversidade. É verdade que muitos organismos se adaptaram a essa presença humana e convivem e são até dependentes da existência do homem para sua manutenção, mas essa é a menor parte”, diz a pesquisadora.
Isso porque a maior parte dos organismos vive em ambientes com menor intervenção humana, onde desenvolvem processo reprodutivo e mantêm o planeta. “Basicamente, os seres autótrofos, as algas e plantas de modo geral, vão consumir oxigênio e produzir gás carbônico, mas podem fazer o mecanismo inverso, acumulando o gás carbônico como matéria orgânica, mantendo um equilíbrio constante do quantitativo de gases na atmosfera. A presença do homem e suas ações têm alterado esses percentuais, aumentando a quantidade de gás carbônicos na atmosfera, além de outros gases”, afirma.
Esse processo ficou conhecido como efeito estufa, quando a quantidade de calor retida na atmosfera aumenta visivelmente, acarretando consequências diversas, inclusive no regime de chuvas. “Você acaba alterando os regimes hidrológicos, a quantidade e a distribuição das chuvas, aumentando secas em alguns lugares e as chuvas em outros, provocando inundações. A redução dos ambientes naturais tem como consequência imediata a extinção de muitas espécies, redução das populações, migrações não naturais”, detalha a zoóloga.
Toda essa desorganização dos processos naturais impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas. Isso explica a importância da preservação dos processos reprodutivos das espécies vegetais e animais, viabilizando a oportunidade de evolução genética de seres mais resistentes, adaptados e com melhores respostas às mudanças do planeta. Há ações individuais, sim, que podem fazer diferença nesse processo. Mas o mais relevante é reforçar uma “consciência coletiva” para que a forma de atuação do homem no planeta seja autorregulada, controlando os excessos.
“A melhor maneira que podemos contribuir com a natureza é colaborar para que as espécies continuem se reproduzindo. Para que isso aconteça, elas precisam de ambientes adequados. Manter plantas e animais, e micro-organismos, é manter a vida funcionando”, afirma a pesquisadora.
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