A conta do supermercado tem pesado ainda mais no bolso dos paraenses. Em meio a um cenário de mudanças climáticas, alimentos essenciais da cesta básica tiveram aumentos de preço, dentre eles café, óleo de soja, azeite de oliva, arroz e leite. A inflação acumulada da categoria “Alimentação e Bebidas” fechou o ano passado em 6,44%, acima do índice geral que era de 4,29%, conforme apontou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um dos principais responsáveis por essa alta foi o fenômeno El Niño, que provocou chuvas excessivas no sul do Brasil e seca nas regiões norte e nordeste, reduzindo a produção agrícola. E segundo a Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization – WMO), a temporada 2023-2024 do fenômeno foi uma das cinco mais fortes da história.
A produção de alimentos tanto no Brasil quanto no mundo vive uma “urgência climática”, é o que afirma Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Pará (Dieese-PA). Os efeitos climáticos trazem, então, impactos diretos para a sociedade e para a economia.
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“Esse cenário dita nosso comportamento de consumo e produção, e, se não forem adotadas estratégias que tragam inovação e tecnologia de cuidados para dar previsibilidade na produção de alimentos, e ter condição nesses novos tempos podemos de ter uma produção maior, estamos fadados a falta de alguns produtos no mercado mundial”, acrescenta.
E a perspectiva para os próximos meses não é animadora. Segundo as projeções de Costa, os preços da cesta básica devem continuar subindo ao longo do primeiro trimestre de 2025, considerando o café como um dos elementos principais, seguido da carne bovina. “Infelizmente, vamos continuar pagando mais caro até por produtos regionais como o açaí e o pescado. A questão climática segue impactando a produção, e o encarecimento dos insumos agrícolas no início deste ano também tem um peso grande”.
DÓLAR
Além disso, Everson considera que o câmbio influencia diretamente na formação de preços, pois o dólar valorizado encarece o custo de produção dos alimentos no Brasil. “Mesmo mais equilibrado agora, nesses últimos dias também é um fator de forte influência na formação dos preços; se subir demais, ele não só encarece a produção, mas diminui a margem de lucro de quem exporta alimentos. Estamos vivendo um período de balança e flutuação cambial”, explica.
E mais…
Um desafio para o consumidor
- Para os consumidores, a alta dos preços é um desafio diário. Nas prateleiras de um supermercado localizado na avenida José Bonifácio, bairro do Marco, o café “comum” varia entre R$14,78 a R$16,45. A autônoma Suely Cabral, de 52 anos, diz que “cada ida ao supermercado é um susto”. “A gente comprava café a R$8, e agora já está R$15. Não tem como não sentir no bolso. Além disso, a carne ficou um absurdo, até o frango encareceu. Não sei onde vamos parar”, compartilha.
- Para o porteiro Guilherme Oliveira, 59, a solução foi reduzir o consumo. “Tomava café o dia todo, mas agora só de manhã. E estou optando pelas marcas mais baratas. Fora isso, o leite e o óleo também subiram bastante. Antes a compra custava R$450, e as mesmas coisas hoje não saem por menos de R$600”, afirmou.
- Já a aposentada Silvia Ladeira, de 77 anos, conta que o café da manhã em sua casa ficou mais caro; mas, como de costume, continua comprando. “O preço está alto, mas compro porque tomo café todo dia de manhã. Antes eu comprava três pacotes por mês, só que agora compro dois, e o azeite está difícil de levar, tudo aumentou”, lamenta.