25 C
Belém
quarta-feira, janeiro 22, 2025
Descrição da imagem

Arquitetura religiosa é uma das marcas da Padre Prudêncio

Date:

Descrição da imagem

Desde que começou a ser estruturada no território de Belém, ainda no contexto de mudança do século 17 para o século 18, a travessa Padre Prudêncio já foi conhecida por dois outros nomes anteriores à nomenclatura atual. Em um cenário em que a capital paraense ainda era restrita ao seu primeiro bairro, a Cidade, o surgimento do bairro da Campina trouxe consigo novas ruas e travessas que ainda hoje são parte do cenário urbano de Belém, entre elas a travessa Padre Prudêncio.

Ainda no contexto do processo do crescimento urbano de Belém e de surgimento do bairro da Campina com suas ruas e travessas, o nome dado inicialmente à atual Padre Prudêncio foi o de travessa da Misericórdia.

Leia mais:

O doutor em história social e professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Amilson Pinheiro, aponta que a via atendeu por esse nome durante algum tempo, até que a partir do final do século 18 e parte do século 19, ela passou a ser conhecida como travessa Landi, uma referência ao arquiteto de origem italiana que foi responsável por grandes transformações no cenário da Belém ainda em formação da segunda metade do século 18.

“Antônio José Landi foi um dos principais arquitetos que passou pelo Pará e que deixou uma marca muito significativa na nossa arquitetura, sobretudo, a arquitetura colonial”, explica. “Nessa travessa, além de contribuir com a Igreja de Sant’Ana, o Landi também tinha residência, há registros históricos de que ele residiu nessa travessa e, por isso, ela foi chamada de travessa Landi. Só bem depois, de fato a partir do final do século 19 em diante, é que ela vai ganhar essa dominação de Padre Prudêncio”.

Quer ler mais notícias do Pará? Acesse o nosso canal no WhatsApp!

O historiador explica que a travessa é constituída de uma arquitetura que foi sendo mudada e adaptada à cidade ao longo dos séculos 18, 19 e 20, ganhando características de acordo com a dinâmica urbana de cada época.

“Então, a gente tem um conjunto de construções que foi mudando. Além dessa arquitetura religiosa que é uma das marcas da travessa, como a Igreja de Sant’Ana que tem uma grande importância para a arquitetura colonial, ela também tem uma série de casarios ainda do século 19 e início do século 20, casarios históricos que fazem parte deste conjunto monumental do patrimônio material de Belém”, explica.

“Tem também a própria Praça Barão do Rio Branco, que é um monumento muito importante para a região do comércio da cidade e a partir do século 20 em diante ela também é inserida nesse processo comercial e esses casarios passam a integrar esse comércio da cidade de Belém”.

MEMÓRIA

O atual nome de Padre Prudêncio foi conferido à via também no contexto do século 19. O historiador Amilson Pinheiro lembra que as ruas são importantes marcadores de memória e de uma memória que é seletiva, portanto, o atual nome da travessa está ligado à demarcação de que história se pretendia tornar oficial na época.

“Em torno dessa memória seletiva tenta-se construir narrativas e esses monumentos e ruas são importantes para que tipo de história se quer tornar oficial. Então, cidades como Belém, por exemplo, vão mudando os nomes de suas ruas exatamente ligado a essa questão de que história e de que memória você quer transformar em oficial e a partir do século 19, principalmente depois da derrota do Movimento Cabano, as forças da legalidade do governo vão, de alguma forma, tentar apagar a memória revolucionária da Cabanagem e exaltar uma outra memória que significasse a ordem, o poder, a memória dos vencedores”.

Com isso, o professor explica que várias ruas de Belém passaram a ter essa simbologia ligada aos que atuaram para reprimir o movimento Cabano e uma delas é a travessa Padre Prudêncio, nome que faz referência a um homem que esteve diretamente ligado ao combate à Cabanagem. “O nome dele, na verdade, era Prudêncio José das Mercês Tavares. Além da questão religiosa, ele teve um importante papel político, ele foi Deputado Provincial, ele foi Juiz de Paz e Comandante Geral das Tropas Legalistas em Ação contra os Cabanos. Então, ele atuava em nome do Governo lutando contra a Cabanagem”, aponta.

“Nessa função de Comandante Geral das Tropas contra a Cabanagem, coube a ele dirigir a Defesa de Cametá, que era um importante lugar de resistência Cabana. Ele era responsável por proteger Cametá, que compreendia os postos militares do Tocantins, Oeiras, Portel e Melgaço. E ele ficou incumbido de ter essa missão, evitando que os rebeldes invadissem essa região que, inclusive, era a sua terra natal”.

Atuando nessas diferentes frentes, Padre Prudêncio foi um homem do século 19, que nasceu em 1810 e faleceu no dia 14 de fevereiro de 1861, e que ficou marcado pela atuação na repressão à Cabanagem.

“A história dele é atrelada a essa derrota do movimento Cabano, primeiro em Belém a partir de 1836 e que vai se alongar numa longa disputa até 1840, quando os Cabanos de fato vão ser derrotados em outras regiões do Pará, então, o Padre Prudêncio estava diretamente relacionado a essa memória dos vencedores, dos que derrotaram o movimento Cabano”.

NOMES

A travessa Padre Prudêncio foi inicialmente chamada de travessa da Misericórdia e depois de travessa Landi, em homenagem ao arquiteto italiano Antônio José Landi que residiu na via e foi responsável pelos projetos de prédios históricos que estão presentes na capital paraense até hoje,

como é o caso do Palácio do Governo (hoje Museu do Estado), assim como as Igrejas de Nossa Senhora do Carmo, de São João Batista e de Sant’Ana, entre outras construções.

Fonte: Livro ‘Ruas de Belém’, de Ernesto Cruz.

IGREJAS: Saiba mais sobre duas importantes igrejas localizadas na travessa Padre Prudêncio.

Igreja de Sant’Ana

Considerada uma assinatura de Landi na arquitetura religiosa, a Igreja de Sant’Ana, cuja pedra fundamental foi lançada por volta de 1760, foi uma construção erguida em função de arrecadações das irmandades do Santíssimo Sacramento, da qual Landi fazia parte, já que era devoto de Sant’Ana. A historiografia aponta que Landi forneceu o projeto da igreja e ainda contribuiu com recursos e mão de obra para a construção dela.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

A primeira construção foi uma ermida muito simples e que acabou sendo demolida em 1725. A construção atual data do século XIX. Com pouca documentação existente sobre a construção, o que se sabe é que ela foi erguida por uma irmandade composta por pessoas escravizadas e negros libertos. Dentre os destaques da construção, é possível ver que os anjos que decoram o seu interior têm feições caboclas e negras.

Fonte: Com informações do livro ‘Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém’, de Jussara da Silveira Derenji e Jorge Derenji, publicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).



Compartilhe

Descrição da imagem

Mais Acessadas

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Descrição da imagem